14 de fevereiro de 2004
Entrevista: “O Transplante Cardíaco é a Cirurgia do Futuro”
14 February 2004
Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil as doenças do aparelho circulatório lideram o ranking da mortalidade. Na faixa etária dos 30 a 69 anos, as doenças cardiovasculares respondem por 65% do total de óbitos, atingindo a população adulta em plena fase produtiva.
Incrementando essa área, o Hospital Português inaugurou a Unidade de Pós-Operatório Cardiovascular e conta com mais uma equipe de cirurgia cardíaca. Coordenada pelo cirurgião Wanewman Lins Guedes de Andrade, a equipe é composta pelo cirurgião Luciano Rapold Souza e pela instrumentadora Priscila Cordelini.
Imagem Real – Qual a função do coração e quais as doenças cardiovasculares que mais acometem o ser humano?
Wanewman Andrade – O coração é uma bomba que impulsiona sangue arterial (sangue oxigenado) para todo o corpo e manda o sangue venoso (carregado de gás carbônico) para o pulmão, onde é oxigenado. Nesse mecanismo, as estruturas anatômicas que o compõem podem sofrer uma série de alterações que caracterizam as doenças cardíacas, ou cardiovasculares. Atualmente, a maior manifestação destes casos para tratamento cirúrgico são as doenças coronarianas seguidas em nosso meio pelas doenças valvulares e cardiopatias congênitas. Existem também as doenças relacionadas à aorta, a exemplo dos aneurismas e das dissecções. O aneurisma é a dilatação da aorta, doença mais comum em pacientes hipertensos e que apresenta risco de morte em caso de rotura. Já a dissecção da aorta também é uma doença grave que pode ser causada pela fragilidade do tecido do vaso ou em conseqüência de outras doenças, a exemplo da hipertensão arterial e úlceras da parede da aorta, alterações congênitas e doenças do tecido conjuntivo.
IR – E quanto ao infarto? Como ele ocorre, quais os sintomas e fatores de risco?
WA – O infarto ocorre através de uma obstrução nas artérias coronárias por placas de ateroma com diminuição ou, até mesmo, interrupção do fluxo sangüíneo para determinada área do músculo cardíaco (miocárdio). Geralmente, se manifesta com dores fortes no peito que podem irradiar para um dos membros superiores e também para a base do pescoço. Também podem se manifestar com desconforto na região gástrica. Obesidade, dislipidemia, diabetes, tabagismo, hipertensão e sedentarismo são os principais fatores de risco.
IR – Qual a relação entre o diabetes e problemas cardíacos?
WA – O diabetes desencadeia a deterioração precoce das artérias através de lesões da camada íntima além de acelerar o processo de degeneração celular em outros órgãos como, por exemplo, os rins, acarretando alterações na sua estrutura e desencadeando hipertensão arterial que por sua vez pode trazer conseqüências graves para a função do músculo cardíaco. Este é apenas um dos problemas que a doença pode acarretar.
IR – Quais as novidades em técnicas de cirurgia cardiovascular?
WA – A cirurgia sem circulação extracorpórea realizada para o tratamento da insuficiência coronariana e o tratamento da doença da aorta com “stents auto-expansíveis”. Graças à utilização de dispositivos de estabilização do músculo cardíaco, a cirurgia é realizada com o coração batendo normalmente. Na técnica com circulação extracorpórea, o coração precisa ser parado para que a operação seja realizada e o sangue é desviado para uma máquina que faz o papel de coração e pulmão (oxigenando o sangue e impulsionando-o para o organismo). Com relação ao tratamento da doença da aorta, a utilização dos “stents auto-expansíveis”, diminuiu a morbi-mortalidade e o tempo de internação hospitalar, mostrando ser um método seguro para tratamento.
IR – Diante das novas técnicas cirúrgicas e dos avanços no tratamento das doenças cardiovasculares, o transplante de coração ainda é uma técnica atual?
WA – Atualíssima. Eu diria até que o transplante cardíaco é a cirurgia do futuro. A técnica cirúrgica evoluiu muito e as nossas maiores dificuldades ainda são a captação do órgão e a luta contra a rejeição no pós-transplante. Novas drogas imunossupressoras estão sendo desenvolvidas, o que nos próximos anos poderá ajudar ainda mais na manutenção dos pacientes transplantados sem deixar de mencionar a circulação assistida com dispositivos mecânicos que também tem evoluído sobremaneira.
IR – Quais as perspectivas para o tratamento das doenças cardiovasculares? O transplante de células tronco já pode ser considerado uma realidade? No que ele consiste?
WA – Sim. As pesquisas estão avançadas e já mostram alguns resultados concretos, porém ainda longe dos objetivos a serem alcançados. Trata-se da utilização de células que ainda não se diferenciaram para determinadas funções e que são utilizadas para que, durante o processo de maturação, assumam o papel das células lesadas do miocárdio tentando restaurar a musculatura do mesmo.