Artigo Científico: Neuroradiologia Intervencionista
25 April 2004
Dr. Marco Heleno Cunha Nascimento*
A Neurorradiologia Intervencionista se utiliza, portanto, de técnicas minimamente invasivas, sob o auxílio de fluoroscopia (radioscopia) em sala de angiografia, para o tratamento de patologias vasculares do sistema nervoso como aneurismas, malformações arterio-venosas encefálicas, fístulas arterio-venosas, dissecções arteriais dos vasos nutridores do sistema nervoso (carótidas, vertebrais e vasos intracranianos), estenose carotídea, vertebral ou de vaso intracraniano. Ainda dentro das patologias vasculares devemos enfatizar a capacidade de realização da terapia trombolítica intra-arterial para os pacientes com AVC isquêmico agudo. Este tratamento é capaz de reverter hemiplegia e afasia desde que o paciente seja atendido dentro de uma “janela” de 3 a 6 horas a contar do início do quadro e que possa receber medicação trombolítica, permitindo assim o restabelecimento do fluxo sanguíneo nos vasos agudamente ocluídos por trombos.
Patologias não-vasculares também podem ter indicação de tratamento por técnica neurorradiológica a exemplo de: tumores, que são tratados quase sempre em caráter pré-operatório; lesões da coluna vertebral como metástases, angioma ou lesão osteoporótica que podem ser tratados por realização de vertebroplastia; herniações discais que podem ser avaliadas pela discografia e tratadas por radiofreqüência ou injeção de álcool absoluto.
No tratamento destas patologias é necessário o uso de material especial como cateteres, fios guia, microcateteres e microfios-guia às vezes pouco mais espessos que fios de cabelo, agulhas especiais e sobretudo agentes emboligênicos. Estes últimos são os produtos a serem veiculados pelos cateteres e que irão executar o tratamento na região doente. Agentes emboligênicos variam muito quanto a natureza desde resinas ou colas médicas como Histoacryl, Onyx, até partículas de PVA (polivinil álcool) de pequeno tamanho (50 a 500 micrômetros ou 10-6 m) e espirais de platina de destaque controlável. Cada agente é indicado para um tipo de embolização, sendo que certas patologias demandam o uso de vários tipos de agentes emboligênicos em combinação para o seu tratamento.
A formação de um Neurorradiologista Intervencionista não se resume portanto ao aprendizado de manipulação de cateteres e materiais mas deve incluir sólida formação e experiência em neurologia clínica, neurorradiologia diagnóstica, clínica neurocirúrgica e sobretudo o hábito de trabalhar em multidisciplinaridade, já que muitos casos irão requerer o trabalho conjunto de colegas de outras especialidades.
Desde os tempos de Antônio Caetano de Abreu, o Egas Moniz _ português prêmio Nobel de Medicina pela leucotomia ou lobotomia e realizador das primeiras angiografias cerebrais da história _ até os tempos atuais a neurorradiologia avançou muitíssimo, mas, um aspecto permanece o mesmo: o de ter sempre uma grande preocupação em fazer o melhor pelo paciente, ainda quando isto signifique nada além de segurar-lhe a mão.
Dr. Marco Heleno Cunha Nascimento é Neuroradiologista Intervencionista