14 de setembro de 2004
Artigo Científico: Uso de um Antidepressivo Dopaminérgico Central para Mulheres com Câncer de Mama e Disfunção Sexual
14 September 2004
Diferentemente de muitos outros efeitos secundários ao tratamento do câncer, os problemas sexuais não costumam resolver-se durante o primeiro ou segundo ano depois da alta médica. Tendo em mente a qualidade de vida do paciente, os problemas da sexualidade podem ser claramente molestos, interferindo com o processo de reintegração à rotina cotidiana depois do tratamento.
As mudanças na imagem corporal decorrentes do tratamento oncológico podem interferir com o apetite sexual, mas a repercussão dos tratamentos cirúrgicos do câncer, como por exemplo a mastectomia, tem sido exagerada e muito estimulada pelos valores culturais atrelados à estética corporal. Além disso, os sintomas físicos debilitantes relatados durante o tratamento quimioterápico, como fadiga, náusea, anorexia e dor podem diminuir o desejo sexual. A disfunção sexual em mulheres jovens pós quimioterapia tem sido atribuída ainda à falência ovariana e menopausa prematura. A supressão ovariana depois da administração de quimioterapia tem sido observada e bem documentada.
De qualquer forma ainda não se tem estabelecido um tratamento definitivo para a disfunção sexual induzida pelo tratamento oncológico, em homens e mulheres. A etiologia da disfunção sexual nestes pacientes é complexa, decorre de múltiplos fatores e, definitivamente, apresenta mais obstáculos no manejo da disfunção sexual quando em comparação com pacientes deprimidos sem câncer.
Infelizmente, não existem, no momento atual, medidas eficazes, comprovadas para o tratamento da disfunção sexual em mulheres pós-tratamento para o câncer de mama. A utilização de lubrificantes vaginais tópicos é recomendada rotineiramente mas nem sempre são obtidos resultados satisfatórios a nível de controle de sintomas locais.
Com base nestes achados, está sendo realizado um estudo, sob a direção da Dra. Clarissa Mathias, voltado para mulheres diagnosticadas com câncer de mama e que desenvolveram disfunção sexual após o tratamento quimioterápico e que estejam em tratamento hormonal. Este estudo avalia o papel de um antidepressivo dopaminérgico central, já aprovado como antidepressivo e coadjuvante no tratamento do tabagismo.
Segundo a farmacologia, esta droga aumenta a quantidade de noradrenalina e dopamina, substâncias químicas naturalmente produzidas pelo corpo, responsáveis pela comunicação entre os neurônios e associadas ao prazer sexual. Ao contrário de outros antidepressivos que influem negativamente na função sexual, tais como os inibidores da serotonina, o medicamento em estudo parece aumentar a libido. Oitenta e seis por cento dos pacientes em uso de tricíclicos, trazodona ou inibidores da monoamina oxidase que fizeram uso desta medicação apresentaram resolução dos sintomas de disfunção sexual.
Em função dos efeitos positivos na libido sexual, as mulheres participantes deste trabalho receberão comprimidos desta medicação para uso oral durante oito semanas e responderão um questionário que avalia a função sexual, paralelamente, serão analisadas segundo duas escalas que avaliam depressão e qualidade de vida. Esta avaliação é realizada em três períodos: antes do inicio da medicação e após 30 e 60 dias em uso da medicação.
*Dra. Clarissa Mathias, Oncologista do Centro Médico Hospital Português, Ivana Maria Rocha Santos e Ignez Braghiroli, estudantes de Medicina da Universidade Federal da Bahia.