3 de setembro de 2004
Artigo: Ensino e Pesquisa no Hospital Português
03 September 2004
Com relação à segunda vertente da missão, alguns pontos devem ser esclarecidos. O Ensino e a Pesquisa, objetos do Centro de Estudos Prof. Egas Moniz, são co-protagonistas na prática das ciências de saúde onde as peculiaridades estão exigidas pelo caráter individual das necessidades sentidas do ser humano, por isto se inserem também, nos meandros da arte: A arte de cuidar e tratar.
A existência e a permanência de uma instituição como a Real Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezesseis de Setembro – Hospital Português só se faz, como vem fazendo, através da abnegação exemplar de seus Sócios Beneficentes, dirigentes que são há quase cento e cinqüenta anos, assim como, dos Mestres e Discípulos tornados Mestres, renovando saber, arte e dedicação no cuidado com os seus Clientes. Estas características resultaram na difusão orientada de conhecimentos, modernidade e tradição institucional, sua espontânea síntese.
A inerência de uma escola de saúde no Hospital Português é fato típico que antecede ao direito de ser requerido como reconhecimento pela profissionalização complementar, suplementar ou inteira de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos, assistentes sociais, nutricionistas, psicólogos, programadores, administradores, engenheiros, técnicos, auxiliares e atendentes diversos, dirigidos para múltiplas especificidades dos serviços de saúde.
A formação de mão-de-obra especializada pela Instituição é percebida na rede assistencial e administrativa do setor de saúde, público e privado, do Estado da Bahia com extrapolações geográficas, regionais e nacionais.
O natural crescimento institucional e a sua visibilidade docente vem recrutando novas ações de identidade cartorial, administrativa e legal se constituindo em mais um desafio conjuntural nas exigências panorâmicas do novo século: é inevitável a constituição formal de uma futura escola superior de saúde da Real Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezesseis de Setembro – Hospital Português, ao menos para transparecer enfaticamente o que já se faz desde o século XIX, na área da profissionalização da saúde em todos os níveis do setor.
A essencialidade da pesquisa no exercício profissional da saúde impõe a observação, a repetição identificada do que foi observado, a experimentação e respectivos registros com métodos, técnicas, táticas, práticas e recursos operacionais. Logo, a pesquisa é genuína, nestas condições, assumindo grandiosidade, efetiva ou potencial, a ser explorada no espectro das vertentes da missão institucional.
A contribuição quantitativa e qualitativa dos serviços do Hospital Português nas pesquisas científicas, em níveis nacional e internacional é patente, atendendo, sobremodo aos novos medicamentos ou as várias inclusões estatísticas. As necessidades de atenção científica nos flagelos da AIDS, do câncer e da diabetes, se associam aos agravos das doenças nutricionais, dos acidentes de trânsito, das doenças cardiovasculares, das doenças transmissíveis e das enfermidades por desvios ambientais, e determinam um terreno ávido por investigações e pesquisas multidisciplinares.
O desenvolvimento incompleto nacional, colocando grande parcela da nossa população a margem das condições imprescindíveis de alimentação, de saúde, de educação, de moradia, de trabalho e de segurança estabelece o recrutamento inadiável de esforços e de recursos para o devido enfrentamento, pela Sociedade Brasileira, procurando as respostas imediatas e mediatas. O componente da saúde, neste contexto, reúne as causas de seus próprios desvios, também comuns aos demais itens do subdesenvolvimento, podendo se constituir na pedra de toque para alcances resolutivos. Esta condição oferece um campo de pesquisa para as necessidades críticas de nossa comunidade sedenta de contribuições para os seus distintos grupos sociais, sem exclusões.
A pesquisa na assistência a saúde para buscar o desenvolvimento pode se tornar um processo viável, sobretudo, quando se aplicam os seguintes princípios: participação ativa da comunidade e sua integração com as instituições de saúde; delegação de funções técnicas; ações integrais de promoção, de prevenção, de reparação e de reabilitação da saúde; coordenação inter-institucional pública e privada; ampla cobertura assistencial com maior esforço aos grupos de riscos; baixo custo operacional; regionalização e hierarquização assistencial; otimização de registros; ações centrípetas e centrífugas; avaliação que meça o alcance de eficiência e qualidade, de desempenho e eficácia e de impacto e efetividade da assistência prestada; além das correções tempestivas de desvios programáticos identificados.
*Vicente de Araújo dos Santos, Superintendente do Hospital Português