Artigo Científico: transplante de fígado — Hospital Português da Bahia
23 de novembro de 2004
Artigo Científico: transplante de fígado
23 November 2004
As cirroses hepáticas provocadas pelos vírus B e C, agrupadas, constituem as condições mais comuns de indicação de transplante hepático. A indicação de transplante, em indivíduos com cirrose alcoólica, depende de um período de abstinência média de seis meses, além de um tratamento psicoterápico, que tente garantir a manutenção da abstinência após a cirurgia.
Os indivíduos com cirrose hepática têm, especialmente nas doenças virais, uma maior chance de desenvolver câncer primário de fígado, que recebe o nome de hepatocarcinoma. Esses indivíduos podem se beneficiar do transplante hepático, com o aumento da sobrevida, desde que indicado precocemente.As doenças das vias biliares, nas quais observamos icterícia progressiva e persistente, dentre as quais a cirrose biliar primária e a colangite esclerosante primária, constituem uma indicação menos comum de transplante hepático, no nosso meio.
Em crianças, a principal indicação de transplante hepático é a atresia das vias biliares, doença na qual a criança, devido a ausência dos canais biliares intra-hepáticos, desenvolve icterícia importante e falência hepática progressiva.
A falência hepática aguda, denominada insuficiência hepática fulminante, é uma das indicações mais graves de transplante, devido a sua alta mortalidade. Trata-se de indivíduos previamente sadios que por uma hepatite viral, uso de medicações ou outras doenças desconhecidas pelo paciente, desenvolvem sintomas graves e rapidamente progressivos de mau funcionamento do fígado. Estes indivíduos representam a única prioridade na lista única da Central Nacional de Captação e Doação de Órgãos (CNCDO).
Para se beneficiar com o transplante, o paciente deve ser encaminhado para um Serviço de Transplante Hepático para ser listado através do seu grupo sanguíneo. Ele realizará exames laboratoriais e de bioimagem, além de submeter-se a uma avaliação multidisciplinar com nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo, odontólogo, cardiologista e pneumologista. Essa avaliação permite a compensação da doença hepática, o diagnóstico e controle de doenças associadas e o tratamento, mesmo que paliativo, de tumores de fígado e de hepatite viral, até o transplante.
Caso sejam detectadas contra-indicações como câncer em outra parte do corpo; doenças cardíaca, pulmonar ou neurológica avançadas, uso de álcool ou drogas ilícitas, infecção severa em atividade ou condições sócio-culturais que impossibilitem o seguimento das indicações médicas, após o transplante, o indivíduo não será colocado em lista.
A cirurgia pode durar de quatro à 14 horas e é considerada de alta complexidade. Consiste na substituição do fígado doente por um órgão novo proveniente de um doador cadáver, ou parte do fígado de um doador vivo, que será inserido na cavidade abdominal no mesmo local do fígado original.
A média de permanência hospitalar após a cirurgia é de cerca de uma a três semanas. Neste período, os médicos garantem um suporte nutricional adequado, a profilaxia e vigilância de infecções e o funcionamento dos outros órgãos, especialmente rins e pulmões. Também durante a internação hospitalar o indivíduo começa a receber as medicações contra a rejeição, chamados imunossupressores. No nosso serviço, o esquema utilizado inclui corticoides, azatioprina e tacrolimus. As drogas são gradualmente reduzidas e cerca de seis meses após a cirurgia, a maioria dos pacientes utiliza somente uma droga, o tacrolimus, em duas tomadas diárias.
Podem ocorrer complicações, ainda durante a internação ou após a alta, que devem ser diagnosticadas e tratadas imediatamente. Nas primeiras horas ou dias podem ocorrer complicações relacionadas à cirurgia ou falência do fígado novo. As infecções, muitas vezes graves, ocorrem geralmente entre o terceiro e o décimo quarto dia. A rejeição aguda pode ocorrer à partir de 8 dias após a cirurgia e rejeição crônica de duas semanas a anos. A diferença entre as duas não é somente o tempo de ocorrência, mas o tipo de células envolvidas na resposta inflamatória. Ambas são tratáveis e, no caso do transplante de fígado, raramente levam a perda do fígado transplantado.
As visitas médicas devem ser regulares, após a alta, visando especialmente a dosagem sérica do imunossupressor e a detecção precoce da rejeição, documentada pela elevação das enzimas hepáticas no exame de sangue.
A sobrevida pós-transplante chega a 90% em um ano e os indivíduos retornam gradualmente à sua vida normal, que inclui atividades de trabalho, exercícios, alimentação normal e atividade sexual.
Dra. Andréa Cavalcanti, médica da Unidade de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital Português
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