Para falar sobre essa nova oportunidade e a importância da terapia com células-tronco, o Jornal Imagem Real entrevista o Coordenador da Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital Português, Dr. Ronald Pallotta.
O que são célula-tronco e terapia celular? A célula-tronco é um tipo de célula que pode se diferenciar e constituir diferentes tecidos, sendo assim funciona como principal instrumento de reparo no organismo. Além disso, possui a capacidade de auto-replicação, ou seja, de gerar cópias idênticas de si mesma sempre mantendo sua reserva nos diferentes tecidos. A terapia com célula tronco é utilizada para tratar doenças e lesões através da substituição de tecidos doentes por células saudáveis. Esta opção terapêutica pode ser aplicada de duas formas : 1) com regime de imunossupressão previamente aplicado, como por exemplo, o transplante de medula óssea para tratar leucemia. Neste método, coletamos células da medula óssea do doador, que contém células tronco adultas e que serão implantadas no receptor após regime de quimioterapia utilizado para erradicar a leucemia. Nestes casos as células-tronco quando colocadas no paciente irão fabricar novas células sangüíneas sadias e regenerar a medula óssea após a imunossupressão. O transplante de medula óssea já se mostrou eficaz no tratamento de doenças oncológicas, hematológicas e imunológicas sendo hoje considerado tratamento convencional nestas doenças. Atualmente pesquisas com diabetes mellitus, lupus eritematoso sistêmico, esclerose múltipla e esclerose lateral amiotrófica tem mostrado resultados bastante promissores. 2) sem regime de supressão previamente aplicado, como por exemplo, o que tem sido feito nos casos de miocardiopatia chagásica. Nestes casos, coletam-se as células-tronco do paciente portador da doença, em geral da medula óssea, e posteriormente as implanta diretamente no órgão a ser regenerado, neste caso o coração através de cateterismo. Atualmente pesquisas em acidente vascular cerebral, hepatopatias, cardiopatias isquêmicas tem sido realizadas.
O que são células-tronco mesenquimais? As células-tronco mesenquimais (CTM) são um tipo de célula-tronco pluripotente, ou seja, que dão origem a alguns tecidos do corpo humano. Em adultos, as CTM podem ser derivadas da medula óssea, da gordura e de vários tecidos fetais. In vitro, são capazes de originar tecidos como osso, cartilagem, gordura e células do sistema nervoso central, além de possuírem efeito imunoregulatório.
Qual a importância da utilização desse tipo de célula-tronco no tratamento de doenças neurodegenerativas? As doenças neurodegenerativas como Esclerose Múltipla, Esclerose Lateral Amiotrófica, Mal de Parkinson e Alzheimer ainda possuem um prognóstico incerto. Os tratamentos utilizados até hoje têm caráter somente paliativo, além de apresentar alto custo e baixa eficácia. As drogas utilizadas são incapazes de interferir no curso evolutivo natural dessas doenças. Sendo assim, a terapia celular surge como uma possibilidade de alterar positivamente o prognóstico delas. Estudos em Esclerose Múltipla e Esclerose Lateral Amiotrófica tem apresentado resultados preliminares bastante promissores quando estas são aplicadas após esquema de imunossupressão.
Nesse contexto, como se encontra o Hospital Português? Desde 2001, o Hospital realiza terapia com células-tronco adultas através da Unidade de Transplante de Medula Óssea (UTMO), que integra o Centro de Medula Óssea da Bahia (CTMO-BA). Hoje mais de 100 procedimentos foram realizados na instituição.
E qual a situação brasileira? O Brasil possui uma posição de destaque. Poderíamos dizer que o país está na vanguarda da pesquisa e desenvolvimento em terapias celulares, principalmente quando o assunto é a utilização de células-tronco adultas, visando a regeneração de órgãos e tecidos em pacientes com diversas doenças crônico-degenerativas. Com certeza, o Brasil pode contribuir e muito para o desenvolvimento da medicina nos próximos anos.
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