4 de junho de 2009
Asma – Uma doença tratável
04 June 2009
A asma brônquica é uma doença muito comum em nosso país, atingindo cerca de 150 milhões de pessoas no mundo. Em termos percentuais, isto corresponde de 4 a 12% de pessoas asmáticas ao redor do planeta. No Brasil, a asma é uma doença igualmente frequente, e está presente em cerca de 20 a 25% da população geral, incluindo adultos e crianças, o equivalente a 15 milhões de pessoas, tamanho da população da grande São Paulo, por exemplo. Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), a asma é responsável por 16% dos atendimentos em pediatria e 12% dos atendimentos de urgência em adultos. Isto termina por fazer da asma a quinta causa mais frequente de internamento hospitalar no nosso país, tratando-se, portanto, de um problema relevante e que merece a nossa atenção.
Quase todas as pessoas que conhecemos convivem ou conviveram com indivíduos que apresentam os sintomas da asma: tosse seca ou com pouco catarro, em geral esbranquiçado, falta de ar ou uma sensação de aperto no peito e o característico “piado no peito”, “chiado”, “pianço” – estes três últimos são termos leigos, utilizados comumente para o que os médicos chamam de sibilos. Estes sintomas podem aparecer em conjunto ou individualmente, em diferentes níveis de gravidade, variando das pessoas que convivem com eles diariamente, atrapalhando a rotina diária, indo para as pessoas que são internadas em emergências ou até em unidades de terapia intensiva, por conta do risco de desenvolverem insuficiência respiratória.
Muitas vezes as pessoas com asma têm uma outra doença associada (em 30% dos casos): a rinite alérgica, que causa coriza, espirros, coceira na garganta e entupimento no nariz, sintomas que se assemelham a uma gripe ou resfriado e que frequentemente não são valorizados pelas pessoas. Um outro aspecto importante é que os sintomas, às vezes, acontecem apenas durante a noite, acordando as pessoas com tosse ou falta de ar, ou ainda cedo, pela manhã, quando muitos pacientes referem uma sensação de aperto no peito e dificuldade para respirar.
Como uma imagem vale mais do que mil palavras, há alguns anos uma indústria farmacêutica realizou um concurso para que crianças asmáticas pudessem expressar o que sentiam quando estavam com os sintomas da asma. Foram referidos uma sensação de nó na garganta, pulmões apertados ou acorrentados ou uma sensação de ter o tórax amarrado mesmo com a janela aberta. Estas ilustrações representam bem as limitações impostas pela doença em questão.
Mas porque as pessoas têm asma? Basicamente, o sistema respiratório (pulmões, brônquios, nariz e seios da face) de pessoas com asma possui um defeito das nossas defesas naturais (o nosso sistema imunológico). Ao entrar em contato (muitas vezes por meio da respiração) com o pó, poeira, variação de temperatura, fumaça de cigarro ou de outras fontes, odores de perfumes ou produtos de limpeza ou mesmo infecções das vias aéreas, o sistema imunológico é ativado de forma inadequada (um processo conhecido como alergia), produzindo inflamação nas vias aéreas e redução do tamanho dos brônquios, causando uma dificuldade na passagem do ar respirado e provocando os sintomas da doença. A asma é, portanto, uma doença genética, frequente em pessoas da mesma família, mas os sintomas variam de pessoa para pessoa, tanto nos tipos dos sintomas quanto na intensidade. Infelizmente, a asma não tem cura, mas sabe-se que algumas pessoas podem passar vários anos ou até décadas sem apresentar os sintomas da doença. Muitos atletas famosos possuem asma e não deixam de praticar atividade física e ter uma vida normal, como o ex-jogador de futebol Romário e o nadador Fernando Scherer (o Xuxa).
Para que uma pessoa possa saber se tem ou não asma, ela deve procurar um médico e contar os seus sintomas. Normalmente, a história que o paciente conta é suficiente para que se faça o diagnóstico e a investigação pode ser complementada por alguns exames simples, como a espirometria (exame em que se respira através de um computador, para se avaliarem as vias respiratórias), exames de sangue, radiografia de tórax ou ainda testes alérgicos, em alguns casos.
Muito se pode fazer pela asma, atualmente, e a grande maioria dos indivíduos com asma que são acompanhados regularmente por seus médicos tem uma vida normal. O tratamento consiste principalmente de medidas de comportamento e higiene, sendo necessário se manter afastado dos agentes que agridem os pulmões, como cigarro, fumaça, poeira, etc. Algumas pessoas com asma têm que utilizar medicamentos para que não tenham sintomas ou crises. Estes medicamentos, na maioria das vezes, são administrados por via inalatória ou respiratória, que é a via mais rápida para se atingir os locais que merecem tratamento (pulmões, brônquios e trato respiratório superior). Qualquer tipo de atividade física pode e deve ser praticado por indivíduos com asma, não somente a natação, fazendo bem não só para os pulmões, como para o corpo inteiro.
Procure o seu médico se você ou um parente seu possui sintomas de asma. Você vai ver que é possível aproveitar a vida plenamente, com muita saúde e felicidade! Para ter mais informações sobra a asma, visite o site da Associação Brasileira de Asmáticos (www.sbasp.org.br) ou consulte um pneumologista.
Autor – Dr. Aquiles Camelier, Pneumologista do Hospital Português, doutor em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo e Membro do Comitê Científico – Iniciativa Global para as Doenças Obstrutivas Crônicas – Organização Mundial da Saúde