Carta ao Dr. Fernando Filgueiras
04 June 2009
Conheci Fernando Filgueiras nos primórdios de sua formação acadêmica, como seu contemporâneo, na Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, mas a nossa aproximação se deu quando nos encontramos na firma A. Portela & Cia Ltda., distribuidora de produtos farmacêuticos. Ambos, carentes de recursos financeiros para custear os estudos, trabalhávamos como propagandistas, distribuindo amostras desses fármacos nos consultórios e hospitais. Fizemos uma sólida amizade, que perdura até hoje. Voltamos novamente a trabalhar juntos, quando servi no Hospital Naval de Salvador, então ocupando o prédio contíguo ao Hospital Santa Izabel, onde hoje funciona o Hospital dos Servidores do Município. Insistido por mim para aceitar uma contratação pela Marinha, recusou-se, peremptoriamente, mas colocou-se à disposição para atender a quaisquer eventualidades e, nas ocasiões necessárias, sempre foi solícito. Jamais reivindicou qualquer pagamento pelos serviços prestados, que, aliás, não foram poucos. Fernando foi um dos maiores cirurgiões que eu tive conhecimento na minha longa existência. Sua atuação era abrangente, o que seria uma aberração nos dias atuais, pela extensão da atividade médica. Sem os recursos propedêuticos hoje à disposição dos especialistas, tinha um senso clínico acurado. Não obstante gostar, preferencialmente, da cirurgia de abdômen – uma caixinha de segredos, como se referiu algumas vezes – atuava, com segurança, em outras áreas, não menos complexas.
Exercia a profissão como um verdadeiro samaritano. Os seus honorários eram algo relegado a segundo plano, no seu relacionamento com os clientes. Era uma característica pessoal.
Fernando Filgueiras é um profissional de escol, que merece a reverência de todos os colegas, especialmente de nós, baianos.
Mário Telles.
Vice-Almirante (Médico) Reformado