Joanete – o grande “vilão” das deformidades dos pés — Hospital Português da Bahia
19 de novembro de 2009
Joanete – o grande “vilão” das deformidades dos pés
19 November 2009
“Doutor, meus pés doem muito e não consigo calçar qualquer tipo de calçado, por causa deste joanete… Nem me fale em cirurgia, pois sei que joanete volta quando opera!”. Esse é o diálogo mais comum nos consultórios dos cirurgiões de pé e tornozelo. Essa afirmação é um grande equívoco. Primeiro vamos conhecer esse “vilão”.
O que é o joanete? O joanete é também conhecido como Hállux Valgus – Hállux (hálux) é o nome dado ao primeiro dedo do pé e Valgus (valgo) é a deformidade deste dedo, desviado para fora do eixo médio do corpo. Podemos definir o joanete como o desvio lateral do grande dedo. O primeiro relato desta patologia foi feito por Volkmann (1856), interessado no crescimento de uma proeminência medial na região anterior do pé, correlacionada com o atrito e compressão pelos calçados. Coube a Carl Hueter (1871) descrever a deformidade em valgo do hálux, acompanhado do desvio medial da cabeça do primeiro metatarsiano. Vários autores têm pesquisado sobre deformidades primárias e secundárias relacionadas a essa patologia.
O joanete é mais comum no sexo feminino, apresentando algum grau de hereditariedade e pode, na maioria das vezes, estar associada ao pé plano. Vale ressaltar a presença, pouco frequente, nas crianças, segundo Garcia e Col (jan/mar 1997), em publicação na ACTA ORT BRAS 5(1). Essa hereditariedade é transmitida por herança autossômica dominante com penetrância incompleta, segundo Johnston (1956). Lam e Hodgson (1958) demonstram taxas de 1,9% em populações que não têm o hábito do uso de calçado, contra 33% nas populações que o usam. Com relação ao sexo, temos uma predominância do sexo feminino de 2:1 em populações infantis (Wilkins, 1941), aumentando significativamente em adultos, em que temos 15 mulheres para um homem (Hardy e Clapham, 1951), talvez incrementado pelo uso dos calçados.
A etiologia tem fatores extrínsecos e intrínsecos. Como fator extrínseco mais importante temos o uso de calçados inadequados, com os quais a acomodação trapezoidal da região anterior do pé (antepé) produz a aproximação do 1° e do 5° raios (1° e 5° metatarsianos), desviando o hálux do eixo médio do corpo. Essa compressão do pé no calçado se agrava quando temos um salto alto. Podemos relatar vários fatores intrínsecos responsáveis por esta deformidade, dentre eles: 1) forma do pé, onde o hálux é maior que os demais dedos do pé (pé egípcio); 2) varismo do primeiro metatarso (1° raio do antepé); 3) obliqüidade da articulação 1ª cunha – 1° metatarsiano, aumentando bastante o desvio medial do 1° metatarsiano (o varismo).
O diagnóstico é eminentemente clínico. O paciente se queixa de dores na região medial e anterior do pé (antepé). Ao exame físico palpa-se uma massa óssea projetada na região medial do antepé, podendo apresentar-se com uma área “avermelhada e inchada”, decorrente do atrito no calçado, associada a dores à palpação e à movimentação. Nos casos mais graves, temos também uma deformidade do 2° dedo do pé em flexão. A avaliação radiológica deve ser sempre solicitada, para fecharmos o diagnóstico e programarmos a correção cirúrgica, quando necessário.
O tratamento conservador deve ser sempre pensado nos casos mais leves. Na presença de dores fortes e muito frequentes, associada ao uso de calçados, devemos ter em mente o tratamento cirúrgico. Essa indicação cirúrgica, na maioria das vezes, é determinada pelo paciente. Vale salientar que indicações puramente estéticas são sempre contraindicadas. O tratamento cirúrgico tem sido objeto de estudos de vários autores. Kelikian (1965) relacionou cerca de 130 técnicas descritas, porém, foi através dos trabalhos de Lapidus (1934) e Mann (1986), que o tratamento cirúrgico foi delineado. A mística em torno da cirurgia corretiva deve ser muito bem esclarecida, pois a atualização dos profissionais e o aparecimento de novas técnicas operatórias associadas aos modernos equipamentos cirúrgicos (aparelhos, placas e parafusos) têm tornado os resultados satisfatórios, com pouca ou nenhuma complicação e, principalmente, sem os retornos, recidivas dessas deformidades. Com isso, temos a oportunidade de operar os dois pés simultaneamente, favorecer a marcha mais precoce, deixando o uso do gesso cada vez mais abandonado. As técnicas cirúrgicas mais utilizadas atualmente são Lapidus, Chevron e Scarf.
Concluindo, a indicação da cirurgia do Hállux Valgus nunca deve ser por estética e sim quando tivermos dor e inadequação a calçados. Cabe ao cirurgião manter-se atualizado e preparado quanto ao conhecimento de novas técnicas e à modernização dos equipamentos, para corrigir e promover a satisfação ao seu paciente com o desaparecimento completo desta limitante deformidade.
Autor: Dr. Fernando Garcia, ortopedista do Hospital Português, membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), membro titular da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPÉ) e mestrando da Faculdade de Medicina do Estado de São Paulo (USP), do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT).
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