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Cirurgia cardíaca minimamente invasiva — Hospital Português da Bahia

15 de fevereiro de 2010

Cirurgia cardíaca minimamente invasiva

15 February 2010

* Cirurgião cardiovascular do corpo clínico do Hospital Português e médico do Centro Médico do HP, graduado pela Universidade Federal da Paraíba, com Residência em Cirurgia Cardíaca no Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo e Membro Especialista da Sociedade Baiana de Cirurgia Cardiovascular.

Na última década a cirurgia cardíaca vem agregando uma série de tecnologias já utilizadas na cirurgia torácica e geral. Com a modernização dos dispositivos de transferência de imagem e melhoria das ópticas foi possível também a utilização desta tecnologia na cirurgia cardíaca. Com este implemento tornou-se possível o tratamento de diversas patologias cardíacas, através de incisões cada vez menores entre os arcos costais (costelas) e também serrando parcialmente o osso esterno, permitindo uma menor agressão tissular e consequentemente um menor trauma operatório, resultando em uma melhor e mais rápida evolução do paciente submetido a uma cirurgia cardíaca.

A técnica, minimamente invasiva, vem sendo utilizada nas diversas áreas cirúrgicas e era inevitável que a cirurgia cardíaca abraçasse esta modalidade. Comumente a cirurgia cardíaca é relacionada a grandes incisões, extensas áreas traumatizadas e à complexidade dos procedimentos de apoio, como a circulação extracorpórea. Os cuidados nos períodos trans e pós- operatórios também tem sofrido grandes modificações, através de uma abordagem multidisciplinar, visando minimizar tempo de ventilação mecânica, permanência em terapia intensiva e hospitalar. A preocupação com  custos hospitalares se reflete desde a internação do paciente até à alta hospitalar, onde todos os procedimentos são gerenciados, visando a menor permanência e utilização de recursos que sejam realmente imprescindíveis para tratamento das doenças cirúrgicas.

Hoje a CCMI vem sendo utilizada para tratamento de um leque cada vez maior de patologias. Recentemente, visitando o Heart Center de Leipizig na Alemanha, sob a orientação do professor Dr. Fredrich Mohr uma das maiores autoridades e incentivadores desta técnica, tive a felicidade de perceber que estamos avançando rapidamente e que, não só a técnica é muito segura, como também permite ao paciente uma excelente e rápida recuperação pós-operatória, com a utilização de menor quantidade de sangue e hemoderivados, menor trauma, consequentemente, menor dor no pós-operatório,menor permanência em ventilação mecânica, permitindo saída mais rápida da Unidade de Terapia Intensiva e desospitalização.

Em alguns dos casos por nós tratados, aqui em Salvador, os pacientes voltaram às suas atividades com menos de 20 dias e dirigiram seus automóveis com  apenas 15 dias de pós-operatório ao contrário das cirurgias cardíacas tradicionais, que exigem um sacrifício maior de tempo para completa recuperação. Infelizmente existe um rigor maior para selecionarmos o paciente adequado para este tipo de técnica cirúrgica, já que existe uma limitação maior de manobras naqueles pacientes, com deformidades da caixa torácica, e naqueles que tenham doença pulmonar prévia de repetição, como broncopneumonias e cirurgias torácicas.

Atualmente, estamos qualificando nosso serviço de cirurgia cardíaca para realizarmos, também, o tratamento da fibrilação atrial por vídeo assistência, que é uma arritmia cardíaca muito freqüente e que pode ter conseqüências graves, como embolizações arteriais, e ser causadora de danos neurológicos graves. No Brasil, podemos hoje comemorar um interesse cada vez maior na CCMI, seguindo a tendência mundial liderada pelos Estados Unidos e Europa, onde esta técnica tem se desenvolvido rapidamente e é muito utilizada.

Não podemos fechar os olhos quando o futuro bate à nossa porta e novas tecnologias surgem, modificando o tratamento das mais diversas doenças cirúrgicas e, embora a cirurgia cardíaca tenha entrado por último, tem se desenvolvido de forma exponencial. Não podemos esquecer que, para incorporação desta técnica, não basta apenas a compra de tecnologia mas, também, um investimento em formação profissional e um árduo período de treinamento.Todo este conjunto de ações visa, sobremaneira, um tratamento mais adequado para nossos pacientes com maior eficiência e menor trauma.