Prevenção do câncer: um dever de todos
25 April 2010
Dra. Clarissa Mathias*
O câncer é a segunda causa de óbito no mundo e muitos casos são preveníveis. Existem sete regras para uma vida saudável, visando diminuir o aparecimento do câncer. São elas: não fumar, evitar ganho de peso, praticar exercícios físicos, manter uma dieta saudável, limitar a ingestão de álcool, proteger-se de doenças sexualmente transmissíveis e proteger-se do sol.
O cigarro causa 30% dos casos de câncer e 50% dos casos de doenças cardiovasculares. Os tipos de câncer causados pelo cigarro são câncer de pulmão, cabeça e pescoço, pâncreas, bexiga e colo do útero.
O ganho de peso está associado ao câncer de cólon, endométrio e, em mulheres pós-menopausadas, ao câncer de mama, porque tecidos gordurosos produzem o hormônio estrógeno, que pode estimular o crescimento de células anormais nas mamas, útero e ovários, além de aumentarem os níveis de fator de crescimento da insulina, envolvido na gênese de alguns tumores.
A prática de exercícios físicos evita câncer de intestino porque, após uma quantidade moderada de exercícios, um número aumentado de células de defesa pode ser medido na circulação. Indivíduos fisicamente ativos possuem um risco 30 – 80% menor do que indivíduos sedentários de desenvolverem câncer de intestino. Adolescentes que praticam exercícios físicos possuem um menor risco de desenvolver câncer de mama na idade adulta.
Concentre-se na ingestão de vegetais, frutas e cereais e escolha carnes brancas ao invés de vermelhas, evitando gorduras saturadas. Anime-se: 30% de todos os tipos de câncer são relacionados a dieta e, portanto, preveníveis.
Limite a ingestão de álcool. Os tipos de câncer relacionados ao álcool são: mama, cólon, reto, boca e esôfago. O álcool é um potente co-carcinogênio, tornando os outros carcinogênios mais eficientes, além de depletar a vitamina A e o ácido fólico, substâncias protetoras.
Proteja-se das doenças sexualmente transmissíveis. O vírus do papiloma humano (HPV) é sexualmente transmissível e causa câncer de colo do útero, vagina, pênis e ânus. Sessenta porcento dos parceiros de pacientes infectadas adquirem a doença após um único contato sexual. A detecção precoce do câncer de colo do útero é realizada através do exame de Papanicolau, capaz de detectar lesões pré-neoplásicas. A avaliação ginecológica deve ser feita anualmente, a partir da adolescência.
Existem quatro tipos de HPV mais comumente associados ao aparecimento de neoplasias e, recentemente, foi aprovada uma vacina contra estes tipos, que deve ser aplicada em mulheres entre 9 e 26 anos, conferindo proteção.
O vírus da hepatite B também pode ser transmitido sexualmente e causar câncer de fígado. Também existe uma vacina contra a hepatite B. A AIDS, também adquirida por via sexual, aumenta a incidência de linfomas e de sarcoma de Kaposi.
Proteja-se do sol. Evite queimaduras de sol e reconheça que uma pele bronzeada é uma pele “sofrida”. Queimaduras com bolhas, particularmente durante a infância, causam melanoma maligno, uma forma letal de câncer de pele. Faça com que chapéus, camisetas e filtros solares se tornem parte do seu dia a dia. Evite estar em contato direto com o sol entre 10 e 15h.
Detecção precoce é a outra chave do sucesso. Através do toque, aprende-se a conhecer a estrutura normal das mamas, sendo possível perceber qualquer alteração. Sociedades médicas recomendam que as mamas devem ser examinadas a partir dos 20 anos de idade. Noventa e cinco porcento dos casos de câncer de mama podem ser curados, desde que detectados no início. A pele também deve ser examinada rotineiramente, observando-se alterações nos sinais e manchas que apresentem assimetria na forma, bordas irregulares, alterações na cor e aumento das dimensões.
A palpação digital da próstata (toque retal) e a dosagem no sangue do PSA (Antígeno Prostático Específico) devem ser realizadas anualmente, a partir dos 40 anos. Aumento do PSA, substância produzida pela próstata, não confirma o diagnóstico de câncer, pois existem outras doenças que também levam a um aumento, entretanto, é um importante orientador para outras investigações. Já o câncer de intestino, se diagnosticado precocemente, é curável. Recomenda-se a realização do exame de colonoscopia a partir dos 50 anos, a cada 5 anos.
A adoção destas medidas simples de prevenção e detecção precoce serão capazes de modificar o cenário mundial em relação aos números crescentes de casos de câncer.
* Oncologista clínica, médica do Centro de Oncologia do Hospital Português e diretora do Núcleo de Oncologia da Bahia.