A enxaqueca e seus tratamentos — Hospital Português da Bahia
9 de julho de 2010
A enxaqueca e seus tratamentos
09 July 2010
Elza Magalhães*
Nem toda dor de cabeça é enxaqueca. Enxaqueca é uma doença primária do cérebro, de predisposição familiar, cujos sintomas são crises de dor de cabeça de intensidade moderada/grave, geralmente unilaterais, latejantes e habitualmente acompanhadas de náuseas, vômitos, intolerância à claridade, barulho e cheiro. São mais frequentes nas mulheres, tendo seu início na puberdade e se estendem habitualmente por toda a vida fértil. Podem apresentar grande melhora durante as gestações e após a menopausa. As crises têm frequência variável, duram por horas ou até dias.
Alguns pacientes, antes das crises, apresentam alterações visuais (visão embaçada, luzes coloridas ou até perda parcial da visão). Estas alterações geralmente precedem as crises e duram cerca de 30 minutos. As crises podem ou não ter fatores desencadeantes, tais como: dormir muito, dormir pouco, dormir fora de hora, determinados alimentos, cheiros fortes, ciclo menstrual, exposição ao sol, esforço físico, bebida alcoólica e estresse emocional, entre outros. Estes fatores são particularizados para cada paciente.
Acredita-se hoje que as crises tenham seu início em áreas específicas do cérebro, com envolvimento de vias nervosas e de algumas substâncias químicas (neurotransmissores) que, quando liberadas, provocam dor, desencadeando então uma crise com todo os seus sintomas. Muito provavelmente as enxaquecas tenham componentes genéticos de transmissão, pois não é raro encontrarmos famílias com várias pessoas afetadas. A enxaqueca não é uma doença estrutural do encéfalo, por esta razão, não é necessário realizar exames (tomografia ou ressonância magnética) para confirmar seu diagnóstico. Trata-se de uma doença funcional, como se fosse um “defeito” bioquímico no sistema modulador de dor localizado no sistema nervoso central. Esse “defeito” não pode ser visto por nenhum exame. Portanto, o diagnóstico da enxaqueca é feito pelo médico durante a consulta no próprio consultório, baseado nos sintomas referidos pelo paciente, seguindo os critérios diagnósticos definidos pela Sociedade Internacional de Cefaleia.
Existem duas formas de tratamento da enxaqueca: o tratamento da crise e o tratamento preventivo. No tratamento agudo são utilizados desde analgésicos comuns até drogas mais potentes, como os anti-inflamatórios e medicamentos mais específicos, como as ergotaminas e, mais recentemente, um grupo de drogas chamadas triptanos. O tratamento deverá ser sempre individualizado, de acordo com a intensidade da dor, sua duração e a invalidez que ela provoca nestas pessoas. Deve-se sempre respeitar as contra-indicações destes medicamentos e evitar uso abusivo, mesmo dos analgésicos comuns.
O tratamento preventivo consiste na utilização de drogas que impedem que o paciente tenha crises. São medicamentos de uso diário, prescritos por um determinado período de tempo. É importante salientar que cerca de 70% dos pacientes que se submetem a tratamento profilático apresentam melhora clínica. Ocorre diminuição da frequência, da intensidade e da duração das crises. Além do fato que os episódios dolorosos que ocorrem na vigência do tratamento serem geralmente de menor intensidade e mais rapidamente resolvidos. Uma novidade no tratamento preventivo da enxaqueca é o uso da Toxina Botulínica – aplicada no couro cabeludo com resposta satisfatória em muitos portadores de enxaqueca crônica.
*Neurologista, pós-graduada em Clínica de Dor, mestre e doutora em Neurociências pela Universidade Federal da Bahia e médica do Centro Médico Hospital Português
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