A Unidade de Emergência e suas implicações — Hospital Português da Bahia
27 de janeiro de 2011
A Unidade de Emergência e suas implicações
27 January 2011
Roberto Valente Filho*
A conceituação de emergência e do como atuar diante de condições caracterizadas dessa forma se constrói do conhecimento do significado, de princípios éticos e filosóficos que suportam a prática do socorro e de circunstâncias históricas.
Emergência é uma propriedade que uma dada situação assume quando um conjunto de circunstâncias a modifica. Essa propriedade será o surgimento de uma partícula subatômica que emerge em um acelerador linear, o aparecimento de um submarino emergindo do oceano ou o desenvolvimento de uma situação de insuficiência pulmonar em um indivíduo que padece de disfunção de seu coração.
A assistência em situações de emergência médica se caracteriza por requerimento de solução imediata, em curtíssimo espaço de tempo, sob risco de morte ou disfunção grave, portanto sem protelação cabível. A justificativa ética para o atendimento diferenciado que estas situações exigem se fundamenta em princípios filosóficos sólidos. Conforme Hegel, o “direito à emergência” é o direito que cada indivíduo tem de abrir uma exceção a seu favor, em caso de extrema necessidade. A situação de emergência não invalida a lei, mas mostra que ela não é absoluta. As circunstâncias de cada situação devem ser consideradas, e ainda postula Hegel, “a vida tem um direito de emergência”.
A medicina de emergência é composta por um conjunto de conhecimentos e habilidades necessárias para prevenção, diagnóstico e manejo de aspectos agudos e urgentes de doenças e lesões que afetam pacientes de todas as faixas etárias. Engloba o entendimento e o desenvolvimento de sistemas de emergência no socorro pré-hospitalar e intra-hospitalar e se vincula com a compreensão do processo de recuperação que possibilitará a melhor escolha no momento de crise, que resultará em melhor reabilitação posterior.
Foi no século XVI que começaram a surgir os primeiros especialistas em medicina de guerra. Nesse tempo, as tensões nos combates haviam aumentado muito, em consequência do uso da pólvora. Foi também nesse período que apareceram os modelos pioneiros de ambulâncias para transportar feridos. De um esforço exclusivo da medicina militar, pela necessidade de cuidar dos feridos, com uma equipe responsável para socorrê-los e levá-los a um lugar seguro para as devidas atenções, o emergencista evoluiu para uma inquestionável necessidade da vida civil, com os hospitais e unidades de emergência, em que muitos dos atendimentos se assemelham aos prestados em um front.
O critério de acesso preferencial aos serviços de emergência é determinado pela gravidade do estado clínico, avaliado por protocolos revisados periodicamente. De acordo com este critério, os pacientes em situação de risco iminente são atendidos em primeiro lugar, seguidos pelos pacientes em situações urgentes e não-urgentes, que procuram estes tipos de serviço por serem operacionalmente mais disponíveis. A elevada incidência de atendimentos de pacientes em situação não urgente, provocados por uma percepção particular de estado de saúde, acrescenta dificuldades para as equipes de trabalho, tornando-se um novo desafio a ser enfrentado, pois pode acarretar um desvio de recursos essenciais de um paciente que precisa para um outro que não precisa naquele momento.
O enfrentamento contínuo das dificuldades apresentadas e a produção de processos que cartografem o tipo de trabalho das unidades especializadas, abordando prioritariamente e estrategicamente as enfermidades agudas tempo-dependentes, requerem dedicação e confiança no êxito, permitindo distorcer probabilidades desfavoráveis, tendo em mente que o otimista tem a mesma capacidade de mudar o cenário que o pessimista, só que o primeiro para melhor.
* Cirurgião, emergencista e coordenador da Unidade de Emergência do Hospital Português
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