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Mente sã, corpo são, trabalho produtivo — Hospital Português da Bahia

9 de junho de 2011

Mente sã, corpo são, trabalho produtivo

09 June 2011

Estresse, dores musculares e fadiga podem ser indícios de sobrecarga no trabalho. Contudo, o leque de doenças laborais é bastante abrangente e de acordo com o Ministério da Saúde envolve toda patologia adquirida ou desenvolvida no exercício da profissão por agentes insalubres (químicos, biológicos ou físicos), condições especiais em que o trabalho é desenvolvido ou fatores ergonômicos. “Excesso de tarefas, organização inadequada do trabalho, necessidade de alta concentração e grande responsabilidade (quando um erro, por exemplo, resulta em morte de colegas ou em perda patrimonial), são fatores que podem gerar sobrecarga e estresse, desencadeando sérios agravos à saúde mental e/ou sistêmica do trabalhador”, adverte a médica do trabalho, especialista em ergonomia e diretora cientifica da Sociedade Baiana de Medicina do Trabalho (SBMT), Joana Matos. Segundo ela, a chave para preservar a saúde, o bem-estar e, consequentemente, potencializar a qualidade dos resultados profissionais está em manter a atenção diária nas condições do ambiente laboral a fim de modificá-las visando sempre eliminar ou neutralizar os fatores de riscos de doenças e acidentes.   

A médica explica que o profissional deve ser o principal responsável por sua saúde e segurança, buscando executar apenas atividades que possuam procedimentos claros, nas quais os riscos e/ou perigos estejam claramente controlados. Além disso, o trabalhador deve ajudar a identificar e comunicar quaisquer condições de trabalho que precisem ser melhoradas, de modo a poder atuar com segurança e conforto. Algumas ações contribuem nesse sentido, a exemplo do programa de ginástica laboral, realização de exames preventivos, disponibilização pela empresa de móveis, ferramentas e equipamentos com boa ergonomia (cadeiras, computadores e acessórios que favoreçam a postura correta), etc. “Procure conhecer bem suas atividades e condições de atuação nas tarefas que estão sob a sua responsabilidade; faça pausas durante o expediente; respeite os limites do seu corpo; mantenha-se em bom condicionamento físico fazendo exercícios, tendo uma boa dieta e hidratação; respeite as horas de lazer; e também faça os tratamentos recomendados e as prevenções rotineiras de doenças do envelhecimento”, recomenda.

No Brasil e no mundo, as estatísticas entre os trabalhadores apontam a prevalência de doenças ou lesões relacionadas ao sistema musculoesquelético, onde se enquadram as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT). As profissões mais expostas a esses riscos são aquelas que envolvem processos manuais, com pouca automação e que demandam força e uso do corpo como ferramenta de trabalho. A realização de movimentos repetitivos, o manuseio de carga, as posturas forçadas (braços para cima, braços abertos, tronco curvado, cabeça estendida, corpo agachado, etc.) acabam expondo o trabalhador às doenças laborais. Atletas, pedreiros, jardineiros, profissionais de limpeza urbana, ajudantes de cozinha e açougueiros de empresas não mecanizadas, marceneiros, operadores de plantas industriais pouco automatizadas, motoristas de carros pesados, motoristas de transporte urbano e lavradores são exemplos de profissões que requerem atenção.

Joana Matos alerta ainda para as atividades desenvolvidas em ambiente de escritório que, sem uma boa organização por parte do próprio trabalhador, podem acarretar problemas de saúde. Situações e comportamentos inadequados, como a tendência ao perfeccionismo e ao desempenho profissional workaholic (compulsivo), também podem tornar o trabalhador vulnerável ao surgimento de patologias. “Tanto o excesso de jornada e de exposição às atividades laborais, sem pausas para descanso, quanto o perfeccionismo provocam uma sobrecarga física e mental”, observa a médica, que também adverte o trabalhador que atua em más condições. “A má estruturação e desorganização laboral favorecem, por um lado, o esgotamento físico, metabólico e/ou mecânico (movimentos e posturas forçadas) e, por outro, a sobrecarga cognitiva pelo excesso de horas extras, exigências individualizadas, dentre outros aspectos”, destaca. 

Assim, a organização é fundamental para todo trabalhador, especialmente em profissões com grande carga cognitiva, devendo atentar para o cumprimento dos requisitos necessários ao seu bem-estar durante a atividade laboral. A empresa em que atua deve se preocupar em estabelecer equipes bem dimensionadas e treinadas; funções adequadamente distribuídas; condições físicas do trabalho bem adaptadas a cada trabalhador; e responsabilidades compartilhadas de forma clara e com regulações solidárias do controle de riscos entre os envolvidos. A delegação de autonomia e autoridade aos empregados, dentro das suas especialidades, também deve ser implementada, bem como a valorização dos treinamentos e reciclagens e o estímulo organizacional às pausas dentro da jornada produtiva devem fazer parte da rotina. “A autonomia e o domínio da atuação profissional na sua totalidade (começo, meio e fim) é condição essencial para cada trabalhador. Assim como, adequar as condições de trabalho às necessidades humanas representa um fator primordial ao desenvolvimento profissional satisfatório”, defende a médica.