Nos últimos 20 anos, a neurocirurgia teve o seu desenvolvimento impactado pela evolução de uma técnica inovadora: a estereotaxia. Resultado da aliança entre Medicina e Engenharia da Computação, a tecnologia avançada e de precisão milimétrica, tem oferecido novas perspectivas ao tratamento de doenças neurológicas como dor crônica, doenças degenerativas (como o mal de Parkinson), tumores, dentre outras patologias que afetam o sistema nervoso. Indicado como o último recurso para tratar tais problemas, o procedimento minimamente invasivo é considerado seguro para os pacientes, apresentando índice de complicações estimado em até 2% dos casos. “A estereotaxia existe há cerca de um século, mas, com a evolução dos softwares nas últimas décadas e o uso de imagens elaboradas na neurocirurgia, houve uma melhora expressiva na precisão cirúrgica para a terapia de doenças que antes eram intratáveis”, destaca Dr. Yuri Andrade Souza, especialista em neurocirurgia funcional e estereotáxica pelas Universidades de Toronto e Western Ontario, médico neurocirurgião e líder da especialidade no Hospital Português, um dos centros brasileiros de referência no assunto.
O mapeamento das áreas específicas do cérebro a serem tratadas (por incisões mínimas e sem necessidade de anestesia geral) é o fator determinante para a exatidão da estereotaxia guiada por computador, permitindo a integridade das funções neurológicas do paciente. Essa precisão é proporcionada pelo uso do equipamento associado ao conhecimento e experiência do neurocirurgião e da equipe cirúrgica, formada por anestesistas, enfermeiros e instrumentadores. “Nessa operação, os riscos para o paciente são os mesmos de qualquer outro procedimento neurocirúrgico”, assegura o médico. Ele explica que o tempo de internação depende da patologia apresentada, podendo variar de 48h até 72h. Em se tratando de tumores mais complexos, a recuperação pode ocorrer em até quatro dias. Geralmente o procedimento é indicado no tratamento de distonias e tremores (distúrbios do movimento), tumores em áreas eloquentes do cérebro, malformações artério-venosas, tratamento da dor crônica de origem central (disfunções cerebrais), alterações psiquiátricas, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), depressão e epilepsia refratária (que não responde às medicações), demonstrando alta eficácia no tratamento dessas patologias.
Os portadores desses distúrbios devem ser examinados por um especialista em neurocirurgia que vai requisitar avalições como a ressonância de alto campo magnético e, se necessário, a tomografia computadorizada. Por meio da fusão dessas imagens, o médico pode planejar virtualmente a cirurgia no pré-operatório. Já no centro cirúrgico, o paciente passa pela demarcação precisa da área a ser operada. “De acordo com o diagnóstico clínico do paciente podemos aplicar a estereotaxia usando um arco estereotaxico fixo ao crânio para reconhecimento das áreas internas do cérebro, visualizando as imagens no computador. Outra possibilidade é fazer o reconhecimento das áreas do crânio sem o uso do suporte, mas com o apoio de marcadores externos, com reconhecimento por câmeras e transferência destas informações para um computador, permitindo uma neuronavegação precisa”, explica o neurocirurgião.
A evolução da técnica é responsável pelo desenvolvimento significativo da neurocirurgia brasileira, que hoje congrega inúmeros benefícios: maior precisão cirúrgica; menor taxa de morbidade; maior controle de doenças funcionais; melhora das funções neurológicas dos pacientes; além da possibilidade de emprego associado de outros recursos cirúrgicos, como o uso de radiação para tratamento de tumores cerebrais.
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