Arritmias e Acidente Vascular Cerebral — Hospital Português da Bahia
18 de junho de 2012
Arritmias e Acidente Vascular Cerebral
18 June 2012
Arritmias cardíacas são um conjunto de transtornos do ritmo do coração que podem ter significado clínico ou ser apenas variações de frequência (extrassístoles) sem importância clínica ou necessidade de tratamento. Dentre todas as arritmias com necessidade de tratamento, a Fibrilação Atrial é, de longe, a mais frequente.
Trata-se de um transtorno não fatal do ritmo cardíaco onde a frequência fica “descompassada” mantendo o coração com batimentos desorganizados, ao invés de uma cadência regular, podendo estar acelerado ou não.
A Fibrilação Atrial pode ser totalmente assintomática ou causar sintomas como palpitações, falta de ar ou dor torácica. Contudo, a principal preocupação nos pacientes com essa arritmia é o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Isto pode acontecer porque pedaços de sangue coagulados (trombos) podem se formar dentro do coração e entrar na circulação, obstruindo vasos importantes como as arterias cerebrais.
Pacientes com Fibrilação Atrial têm até 5 vezes mais chance de AVC do que aqueles com ritmo normal. Dependendo de outros fatores de risco como idade, hipertensão, diabetes, doenças do músculo cardíaco, o risco pode chegar perto de 20% ao ano! É possível reduzir esse risco, em casos selecionados, através do uso de anticoagulantes.
Há muito tempo se conhecem os efeitos benéficos do Ácido acetilsalicílico (AAS) para “afinar o sangue” e reduzir o risco de trombose em vasos específicos. Na Fibrilação Atrial é necessária, frequentemente, uma anticoagulação mais agressiva, utilizando medicações que ajem no sangue de maneira mais eficaz e reduzindo o risco de AVC em até 70%.
Estudos populacionais mostram que, no mundo todo, apesar do benefício comprovado, até metade dos pacientes com indicações de uso dessas drogas não são prescritos ou as utilizam de forma inadequada. As razões incluem falta de conhecimento médico, dificuldade de acesso ao tratamento e risco de sangramento. O uso de anticoagulantes requer controle clínico rigoroso através de exames simples de sangue (Tempo de Protrombina) que medem o efeito do anticoagulante e consequentemente orientam o ajuste da dose. Este cuidado dificulta a aplicação ampla desse tratamento a todos, pois nem sempre é possível garantir a aderência do paciente a tal intervenção.
É importante chamar a atenção para o fato de que essas dificuldades não diminuem o benefício do tratamento anticoagulante. Estima-se que até 25% dos casos de AVC em idosos estão associados à Fibrilação Atrial. No grupo de octogenários, por exemplo, a prevalência de Fibrilação Atrial pode chegar a 10%. A prevenção nesse caso é uma questão de saúde pública. Hoje em dia tem sido cada vez mais facil o acesso ao tratamento, inclusive com a chegada de novos anticoagulantes que não necessitam realizar ajustes com exames de sangue e podem ser prescritos em dose fixa.
Reconhecer o problema e identificar os riscos e os benefícios de cada intervenção são ferramentas indispensáveis, que requerem a atuação de clínicos, cardiologistas, neurologistas e geriatras, na prevenção do Acidente Vascular Cerebral.
* Especialista em Estimulação Cardíaca Artificial pela USP, especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), membro habilitado do departamento de Estimulação Cardíaca Artificial da SBCCV/SBC e da Câmara Técnica de Cardiologia do CREMEB. Atende no Serviço de Arritmia do Hospital Português e no Centro Médico Hospital Português.
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