Câncer de pulmão
06 August 2013
Já se foi o tempo em que o hábito de fumar povoava o imaginário coletivo como um símbolo de glamour reforçado por artistas do cinema. Hoje, o avanço da medicina e campanhas de conscientização tratam de expor para o grande público os principais danos que a dependência ao tabagismo pode causar. Infarto, bronquite crônica, enfisema pulmonar e, no topo da lista de mais de 50 tipos de doenças, o câncer de pulmão. A patologia está relacionada à exposição ao tabaco em 90% dos casos e representa a principal causa de morte por câncer no mundo. Atualmente, o Brasil concentra cerca de 31 milhões de fumantes, 16,8% da população. Segundo o Instituto Nacional de Câncer – INCA, em 2013, o país deve registrar 27.320 novos casos de neoplasias pulmonares. Uma realidade que tem exigido dos centros de saúde investimentos concomitantes em prevenção e tratamento da doença. “A terapia do câncer de pulmão tem evoluído muito nos últimos anos. A cada dia conhecemos novas possibilidades terapêuticas. A busca é por um tratamento personalizado, capaz de dar a melhor resposta ao paciente com o mínimo de agressão ao organismo”, explica a médica oncologista clínica do Centro de Oncologia Hospital Português, Dra. Eldsamira Mascarenhas.
Em geral, o câncer pulmonar só apresenta sintomas em estágios avançados, o que resulta em diagnósticos tardios e altos índices de mortalidade. Na Bahia, o INCA estima que 850 novos casos da patologia ocorram este ano, dos quais 290 em Salvador. Para confrontar tal realidade, o tratamento desse tipo de câncer evoluiu muito nos últimos anos, passando a oferecer uma abordagem diferenciada e personalizada para a condição clínica do paciente. A contribuição mais recente nesse sentido é o emprego da Terapia Alvo-Molecular.
TERAPIA ALVO-MOLECULAR: MAIOR PRECISÃO NO COMBATE AO CÂNCER
Empregando medicações desenvolvidas para agir diretamente sobre alterações genéticas específicas, o tratamento tem sido utilizado pelo Hospital Português como método complementar aos recursos terapêuticos convencionais – cirurgia, radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia. A partir da avaliação molecular do tumor, o método identifica com detalhes as alterações bioquímicas e ajuda a definir o tipo de droga mais adequada para tratar a mutação genética. De acordo com a oncologista clínica do Centro de Oncologia HP, o maior benefício para o paciente é poder receber uma terapia personalizada, que atua na doença utilizando um inibidor específico. “A busca por novos tratamentos e novas vias de bloqueio tumoral é uma realidade atual. O uso da Terapia Alvo-Molecular insere o HP nesse contexto evolutivo. Há muitos estudos que comparam essa terapêutica com a quimioterapia em pacientes portadores de alterações específicas e, de fato, existe a comprovação de melhor resposta do tratamento nesses casos”, destaca.
A especialista observa ainda que o método avançado tem indicações específicas para a realização e, quando bem empregado, proporciona uma abordagem mais individualizada, ampliando o tempo de controle do tumor. Para alguns pacientes esse aspecto que pode representar uma vantagem significativa em relação à quimioterapia. Contudo, a resposta clínica sempre vai depender de fatores como presença de doenças associadas e nível de toxidade ao tratamento. Além disso, como toda medicação, a Terapia Alvo-Molecular possui características específicas e efeitos colaterais, que embota sejam esperados devem ter o acompanhamento rigoroso de equipe assistencial habilitada.
ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR É ESSENCIAL PARA O PACIENTE
O apoio multiprofissional desenvolvido por médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, é fundamental para o tratamento do paciente oncológico, pois assegura o amparo das necessidades físicas e emocionais. No HP, a abordagem individualizada do paciente com câncer pulmonar é feita por uma equipe treinada e experiente na área. “Em medicina a individualização do tratamento é o fator mais importante, porque trabalhamos com pessoas. O cuidado está além do uso de medicações”, conclui a especialista.
PROGRAMA DE TRATAMENTO PARA O TABAGISMO DO HP
“A dependência é tão forte que muitas pessoas continuam fumando mesmo depois de diagnosticadas. É preciso oferecer a esses pacientes formas de abandono do hábito e elevar as chances de resposta da terapia”, revela Dra. Marta Leite, líder do Programa de Tratamento para o Tabagismo realizado pelo Núcleo de Doenças do Torax do Hospital Português. A principal causa desse comportamento é a dependência gerada pela nicotina, droga bastante poderosa, presente na composição de cigarros, cachimbos, charutos, fumos em corda, palheiros e rapé, responsável por gerar níveis de dependência semelhantes à heroína, cocaína e ao álcool. A diferença é que ao tragar a fumaça, as toxinas chegam ao cérebro em apenas 7 a 19 segundos, afetando o sistema nervoso central. Além disso, o tabagismo aumenta em 20 a 30 vezes o risco de desenvolver câncer de pulmão. De acordo com as condições psicológicas e emocionais de quem fuma, um único cigarro pode causar dependência.
Eliminar o hábito de fumar constitui o principal fator de prevenção do câncer pulmonar. Durante o Programa de Tratamento para o Tabagismo do HP o paciente aprende gradativamente a desenvolver uma relação cada vez mais distanciada do cigarro. O uso de medicações que agem nas mesmas regiões em que a nicotina atua é decisivo para controlar a síndrome de abstinência e os sintomas decorrentes, como disfunção gástrica, dor de cabeça, ansiedade, dificuldade de concentração, alterações do sono e irritabilidade, que duram cerca de duas semanas. O tratamento começa a fazer efeito após uma semana de iniciado e deve ser mantido por pelo menos 3 meses. Nesse período, o acompanhamento mensal do paciente por um especialista é essencial para o sucesso efetivo do tratamento e a prevenção de recaídas. “Até parar de fumar definitivamente, algumas pessoas fazem em média de 3 a 4 tentativas. Mas quando a pessoa toma a decisão interna de parar de fumar, suas chances são bem maiores e o sucesso assegurado”, avalia a médica.
Ela explica que o tabagismo atua de forma peculiar em homens e mulheres. No público feminino o hábito geralmente está associado a fatores emocionais, mudanças de humor, tendências que podem gerar dificuldades diferenciadas durante a abstinência. “É importante conhecer essas especificidades para poder oferecer o tratamento adequado, ampliando as chances de sucesso”, afirma Dra. Marta Leite. Ela informa que o Núcleo de Doenças do Torax do HP realiza o tratamento e acompanhamento para quem deseja abandonar a dependência ao fumo. Durante a primeira consulta o paciente responde a um questionário que identifica o grau de dependência. A partir daí é feita a escolha da opção de tratamento mais adequada, que inclui uso de medicações nicotínicas (adesivos, gomas de mascar, aerossol e inalador para liberação controlada da nicotina no organismo) e não-nicotínicas (antidepressivos e anti-hipertensivos).
Em média, seis meses depois de parar de fumar o organismo começa a experimentar os primeiros sinais de superação da dependência química. Nesse momento a maioria dos ex-fumantes já consegue reconstruir uma rotina sem o cigarro. Além de reduzir em 10 vezes o risco de câncer de pulmão, a pessoa amplia a expectativa de vida de cinco a oito anos em relação a fumantes, melhora a resistência física para exercícios, reduz o risco de aborto espontâneo e morte fetal, diminui o risco de infecções respiratórias frequentes e outras patologias.