A medicina é uma das profissões mais antigas da civilização. Na Grécia antiga ela compunha com Aesclepius, ou Esculápio, o Panteão dos Deuses, Semi-Deuses e Heróis. Por este motivo os médicos, até hoje, podem ser denominados Asclepíadas, ou seja, discípulos de Aesclepius, cujos dons de curar foram ensinados pelo Centauro Quiron, o mesmo mestre de Aquiles, Jasão, Tezeu, e outros grandes Heróis da antiguidade. Por este motivo também, tanto Esculápio, quanto Quiron, estão eternizados no firmamento, compondo respectivamente as constelações de Ophiuco, o Serpentário, e Centaurus, duas das mais belas formações estrelares do céu. A medicina era então dominada pela teologia, pela mágica e pelo folclore, preceitos do qual a libertou o médico Hipócrates, nascido na ilha de Cós, poucos séculos antes da era cristã. Hipócrates desenvolveu o primeiro tratado de medicina ecológica, ou geográfica, intitulado “Ares-Aguas-e Lugares”, libertando o saber e a prática médica das superstições e dos Deuses, comprovando o efeito do ambiente e dos “Modus Vivendi” sobre a saúde das pessoas. É por isto que Hipócrates, um médico de fato, e não Esculápio ou Quiron, é considerado o Pai da medicina, motivo pelo qual até hoje os jovens formandos iniciam a sua carreira professando o “Juramento de Hipócrates”.
Durante séculos, e de certo modo até hoje, os médicos exerciam a sua profissão independentemente de instituições hospitalares. A Era Moderna e a Era Contemporânea assistiram, porém, um grande avanço na prática médica, estribado este, sobretudo, no avanço da tecnologia diagnóstica e nas internações hospitalares. As instituições nosocomiais passaram gradativamente a oferecer mais segurança e conforto aos pacientes, bem como mais acurácia e poder aos discípulos de Hipócrates. Chegamos assim ao patamar atual, onde medicina e hospital se fundem no constructo da medicina adequada aos grandes desafios da arte de curar. Hoje, conquanto os médicos, enquanto profissionais liberais, exerçam o seu sagrado mister em consultórios e domicílios, é nos hospitais que eles enfrentam os maiores desafios da profissão. Os hospitais se transmutaram, de simples hospedarias, em casas do saber médico, locais em que a saúde encontra o seu porto mais seguro, quando as tempestades se avizinham ou se declaram. É justamente neste momento que a união médico versus hospital se faz imprescindível, o médico provendo assistência, o hospital descortinando as condições adequadas.
A medicina contemporânea tem muito a dever ao binômio médico – hospital, sem o qual ela reverteria a tempos remotos, desprovida da ciência que hoje tanto a qualifica. Os bons médicos apuram as suas qualidades de Asclepiadas nos bons hospitais. E estes revelam as suas qualidades de casas do saber e da cura, com os bons médicos que os frequentam. Ambos estão na ponta da boa medicina, verberando para além dos tempos, passados, presentes, e futuros, a glória do saber e a sapiência do curar. Aesclepius e Hipócrates que nos ouçam. E nos amparem.