A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) afeta 1 em cada 4 mulheres, sendo considerada a segunda principal causa de infertilidade feminina, ficando atrás apenas da endometriose. Mas, nem toda mulher com cisto no ovário possui a síndrome, já que é necessário a associação de múltiplos fatores: alterações ou ausência de menstruação, presença de pelos em regiões comuns ao público masculino (queixo, baixo ventre, tórax), aumento de peso, dificuldade para engravidar. A percepção desses sintomas representa um sinal de alerta para a mulher buscar atendimento especializado, visto que a síndrome representa uma porta de entrada para o desenvolvimento de outras patologias, como diabetes, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares. A SOP não tem cura, por isso o controle do problema é fundamental durante a fase fértil da mulher. Nesta entrevista, Dr. Vicente Menezes, ginecologista obstetra cadastrado na Maternidade Santamaria do Hospital Português e preceptor no Serviço da Residência Médica do Instituto de Perinatalogia da Bahia (Iperba), traz mais informações sobre o problema. Confira!
1. Quais riscos a síndrome do ovário policístico oferece a mulher?
A SOP pode levar a irregularidade menstrual, hemorragia uterina disfuncional, hiperplasia do endométrio, câncer do endométrio, dificuldade de engravidar, complicações na gravidez por diabetes ou hipertensão, nível elevado de hormônios masculinos no sangue (hiperandrogenismo), distúrbios metabólicos, diabetes, dislipidemias, obesidade, hipertensão arterial sistêmica com predisposição para doença coronariana.
2. Quais sintomas indicam a existência desse problema?
A SOP é caracterizada clinicamente por irregularidade menstrual (oligomenorreia) e hiperandrogenismo que frequentemente está associado a fatores de risco para doença cardiovascular como obesidade, intolerância a glicose, altos níveis de gorduras na corrente sanguínea (dislipidemia) e interrupções respiratórias durante o sono (apneia do sono). Em geral, a mulher percebe que algo está errado com a irregularidade no clico menstrual, surgimento de acne em excesso e aspectos comuns aos homens como queda de cabelo na região frontal do couro cabeludo ou excesso de pelos em áreas masculinas (como queixo, tórax, baixo ventre).
3. A ultrassonografia transvaginal é o exame mais eficaz na identificação dessa doença?
Os critérios definidos em 2003, em Rotterdam, Holanda, pela Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia e pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, são usados para selar o diagnóstico. Assim, dois ou três critérios devem estar presentes para confirmar: 1) Ausência de ovulações (anovulacao) ou ovulações infrequentes (oligovulação). 2) Diagnóstico clínico ou laboratorial de hiperandrogenismo. 3) Ovários Policísticos na ultrassonografia transvaginal. Neste exame, é preciso que a mulher apresente 12 ou mais folículos em cada ovário, medindo de 2 a 9 mm de diâmetro e/ou aumento do volume ovariano maior que 10ml. Apenas um ovário com estas alterações já afirma possibilidade da SOP. Por outro lado, o ultrassom alterado sem outros fatores não é valorizado.
4. Como é feito o tratamento?
Considerando que não se sabe a causa da SOP, não há tratamento curativo. A abordagem se restringe a redução dos sintomas e dos sinais indesejáveis e a diminuição do risco associado às complicações metabólicas em mulheres com o problema. Tendo em vista o funcionamento do organismo durante a doença, podemos empregar opções terapêuticas para melhorar a sensibilidade à insulina (perda de peso, estilo de vida saudável, medicações antidiabéticas) ou promover o bloqueio de hormônios masculinos. Nesse sentido, a terapia é dividida em orientações para melhora dos hábitos de vida e tratamento medicamentoso.