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Desacelere — Hospital Português da Bahia

7 de janeiro de 2014

Desacelere

07 January 2014

Os transtornos de ansiedade são considerados um dos principais problemas de saúde mental dos brasileiros que vivem nas grandes cidades. O levantamento mais recente da Organização Mundial da Saúde – OMS apontou que os componentes psicológicos e fisiológicos da ansiedade afetam mais de 10 milhões de pessoas no país: falta de ar, respiração ofegante, estado de alerta, diarreia, palpitação, suor intenso, tontura, aumento da pressão arterial, aperto no peito. As reações emocionais incluem ainda irritabilidade, dificuldade de concentração e evitação de situações ou do objeto temido, de acordo com líder do Serviço de Psicologia do Hospital Português, Fernanda Neder. Entre as razões que geram o transtorno aparecem as exigências da vida moderna, responsáveis por um estilo de vida acelerado, marcado pela pressa, velocidade, rapidez e por um ritmo bem diferente de décadas passadas. “É difícil encontrar quem não possua uma rotina atribulada. Podemos afirmar então que a pressa constitui o sujeito moderno e que ele se estrutura em torno do tempo da urgência”, avalia. 

A especialista lembra que diante de certos acontecimentos – situações de mudança, novas experiências – a ansiedade é uma manifestação esperada do ser humano, mas que pode deixar de ser um sentimento transitório e surgir sem um motivo aparente. “Quando este sentimento se torna uma condição que afeta o sujeito, passa a dificultar o seu desempenho em atividades habituais”, observa. Os efeitos prejudiciais da sensação se manifestam no homem contemporâneo através de psicopatologias consideradas atuais: transtorno de ansiedade, anorexia nervosa, toxicomania, doenças psicossomáticas. A prevalência significativa de doenças orgânicas como hipertensão, obesidade e cardiopatias também apontam para a intensidade cotidiana e para a aceleração que permeia o modo de viver e as relações estabelecidas nos dias de hoje.  

Embora a pressa gere impactos para a saúde física e emocional, Fernanda Neder acredita que não deve ser vista única e exclusivamente como vilã, haja vista os avanços que o mundo moderno conquistou a partir deste novo modelo tecnológico de viver. De fato, celular, computador, internet, entre outros instrumentos de comunicação tem facilitado a obtenção de resultados e produzido um mundo cada vez mais ágil e exigente. “Ao mesmo tempo em que assumem um papel elementar na construção das relações profissionais e pessoais, estes instrumentos devem ser utilizados sempre com uma margem de cuidado no relacionamento entre as pessoas, para não excederem e comprometerem a qualidade das relações. É necessário priorizar o equilíbrio”, lembra. 

Sintomas próprios dos dias atuais, tais como estresse e ansiedade, quando não bem administrados podem ressoar na vida pessoal e provocar quadros psicopatológicos, segundo a psicóloga. Os sintomas físicos são evidências de que é preciso parar e desacelerar o ritmo da rotina. “A psicanálise trabalha com a ideia de que aquilo que não é trabalhado, resolvido psiquicamente, vai para o corpo, produzindo sintomas conhecidos da clínica atual, como os fenômenos psicossomáticos e quadros de ansiedade”. Essa explicação justifica quadros de sofrimento psíquico, mal estar, angústia intensa, ansiedade excessiva, que compromete a vida social e alerta para a necessidade de repensar o estilo de vida e priorizar uma pausa para si. Embora esta seja uma escolha pessoal, que passa pela análise subjetiva de cada um, pode requer a ajuda de um profissional diante da dificuldade de lidar com os imperativos do cotidiano e de quadros psicopatológicos. “O psicólogo vai auxiliar na percepção da necessidade de desacelerar o ritmo de vida, de cuidar da saúde, de reduzir o tempo de trabalho, de ter limites na rotina e priorizar um tempo para si. Não é preciso esperar uma doença orgânica para frear o ritmo acelerado e ressignificar o modo de viver”, orienta.