Imunoterapia abre perspectivas para cura do câncer
03 April 2014
À medida que a ciência amplia o olhar sobre o comportamento do câncer no organismo humano, surgem novos avanços nos métodos disponíveis para tratar os diferentes tipos de tumor, com ganhos significativos para a sobrevida e manutenção do bem-estar dos pacientes. Situações que no passado pareciam impensáveis, hoje constituem realidades: a cura da doença tratada em estágios iniciais e a cronificação dos casos avançados. Graças ao emprego de drogas capazes de conter a evolução e disseminação da patologia em outros órgãos (metástase), muitos pacientes já enfrentam o problema com significativa melhora dos sintomas. Para os pesquisadores da área, a cura definitiva do câncer parece estar cada vez mais próxima. A grande aposta nesse sentido é a imunoterapia. Também chamada de terapia biológica, a técnica emprega drogas que estimulam a capacidade do sistema imune humano no ataque ao tumor, impedindo suas chances de reaparecimento. No Brasil, foi aprovado, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o uso da medicação imunoterápica ipilumumabe, em 2012, para o tratamento de pacientes com melanoma – tipo mais perigoso de câncer de pele. “A imuno-oncologia é o que a medicina tem mais promissor para cura do câncer. Estudos têm demonstrado bons resultados na redução de tumores que não apresentaram boa resposta com outras terapias. Estamos atentos a essa perspectiva e já estamos utilizando o ipilumumabe no controle da metástase do melanoma”, revela a pesquisadora e especialista do Centro de Oncologia Hospital Português, Dra. Clarissa Mathias. Coautora de trabalhos publicados sobre o tema, a oncologista explica que o maior diferencial da imunoterapia em relação às outras técnicas de combate ao câncer é o fortalecimento do sistema imune do paciente, que fica bloqueado na presença do tumor. O emprego dessa nova geração de medicações guarda semelhanças com a ação esperada de uma vacina, que deve combater definitivamente a doença através do estímulo dos mecanismos de defesa do organismo. No caso da droga ipilumumabe – anticorpo humano – seu emprego no combate do melanoma metastático se tornou mais difundido desde que as evidências no ganho de sobrevida dos pacientes foram apresentadas no encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), com base no primeiro estudo randomizado (realizado simultaneamente em grupos distintos) em melanoma. Alguns pacientes demonstraram grande benefício com uso dessa medicação, alcançando sobrevida média de 10 anos. Tal descoberta evidenciou a viabilidade do uso diário e prolongado da nova medicação, como uma alternativa possível para pacientes de melanoma avançado. Atualmente, diversos estudos têm testado o uso desse medicamento em associação a outros grupos de anticorpo, a fim de avaliar os benefícios obtidos no tratamento do melanoma, tais como a redução no risco de progressão da doença. A pesquisa randomizada mais recente, em andamento na Europa e nos Estados Unidos, compara a ação do ipilumumabe à outra droga similar (o nivolumabe), e ainda à resposta obtida pela ação combinada desses dois agentes imunoterápicos. A expectativa é de que em breve a avaliação também seja desenvolvida nos centros de oncologia do Brasil. Em quase duas décadas de investigações sobre terapia biológica, desde o primeiro tratamento aprovado na área, as evidências científicas da sua eficácia no ataque ao tumor firmam o método como uma alternativa promissora aos tratamentos convencionais por radioterapia e quimioterapia. Em 2012, o reconhecimento da evolução conquistada nos resultados da área rendeu à imunoterapia o prêmio de Avanço do Ano contra o câncer, concedido pela revista Science – publicação científica norte-americana de maior prestígio no mundo. Agora, os cientistas oncológicos buscam aprimorar de tal forma a terapia biológica para que, progressivamente, ela possa substituir tratamentos que se mostram mais tóxicos e invasivos no combate ao câncer. As pesquisas desenvolvidas na atualidade centram esforços na avaliação dos biomarcadores imonológicos ou moleculares de resposta, bem como, na combinação de diferentes agentes imunoterápicos, como vacinas, imunomodulares e anticorpos de bloqueio de ponto de verificação, na tentativa de melhorar os resultados já obtidos nos pacientes. Outros estudos incipientes apontam para a formulação de um coquetel para melanoma avançado, abrindo uma possibilidade de tratamento para esses pacientes similar ao utilizado por portadores de HIV. “Existem diversas abordagens inovadoras sobre imunoterapia que estão sendo investigadas e já apresentam resultados iniciais animadores. Nosso objetivo é que as descobertas possam operar uma revolução nos tratamentos atualmente disponíveis para os diferentes tipos de tumores”, informa Dra. Clarissa Mathias.