Saúde em jogo
04 June 2014
O juiz apita e a bola começa a rolar no gramado. A meta de fazer gols dá ritmo aos 90 minutos que se seguem. A partir daí, o preparo físico dos jogadores em campo assume papel decisivo para o placar final. Mas, para obter bom rendimento durante a partida, a primeira regra antes de calçar as chuteiras é avaliar a saúde e condicionar o corpo. Além de minimizar os riscos de lesões e morte súbita, com esses cuidados quem pratica o bate-bola no lazer ou profissionalmente passa a desfrutar de inúmeros benefícios físicos e mentais. Redução da gordura corporal, manutenção do peso, redução do risco de doenças cardiovasculares, melhora das condições cardiorrespiratória e osteomuscular; aumento da coordenação, dos reflexos, agilidade e concentração, estão entre os ganhos listados por especialistas em Cardiologia, Ortopedia, Pneumologia, Otorrinolaringologia e Neurologia do Hospital Português. O time médico orienta como extrair o melhor dessa modalidade esportiva popularizada em centenas de países e que representa uma verdadeira paixão nacional.
Estímulo da capacidade cerebral
Para o cérebro, pouco importa se futebol acontece no gramado, quadra esportiva ou campo de várzea. À medida que colocam à prova suas habilidades técnicas e táticas, os jogadores mobilizam vários circuitos neurais e liberam neurotransmissores – serotonina, dopamina e endorfinas – responsáveis pelo humor e sensações de recompensa e bem-estar. O resultado é a redução do estresse, estímulo à autoestima, socialização e vínculos de amizade; proteção contra a degeneração cerebral, prevenção de doenças, manutenção do fluxo sanguíneo adequado no cérebro; melhora do sono, peso e da propriocepção – propriedade neurológica relacionada ao sentido de direção e movimento, que evita quedas. Jogar bola frequentemente favorece ainda a disciplina, concentração e capacidade executiva no dia a dia, por meio da atuação estratégica em grupo. Dr. Ailton Melo, especialista da Neurologia do HP, indica o esporte para crianças e adultos, sobretudo, que apresentam déficit de atenção, hiperatividade, paralisia cerebral leve ou moderada, doença de Parkinson, insônia, ansiedade, depressão, síndrome da dor miofascial e cefaleia tensional. “Os babas semanais promovem ganhos expressivos para o sistema nervoso. Tornam seus praticantes mais ágeis, alertas e melhoram o raciocínio, a coordenação motora e os reflexos. Produzem situações de aprendizado que podem ser transpostas para as relações familiares e sociais, como liderança, perda e ganho, diferenças individuais”, destaca.
Elevação da imunidade
Assim como os jogadores profissionais, os amadores (que são a maioria dos praticantes da modalidade no Brasil) também podem se beneficiar do fortalecimento da capacidade respiratória e do sistema imunológico com o jogo regular. Segundo estudo do British Journal of Sports Medicine (Jornal Britânico de Medicina Esportiva) praticantes de atividades regulares apresentam sintomas atenuados de viroses, como gripes e resfriados, em relação a pessoas sedentárias. “Desde que haja consentimento de um cardiologista, a atividade pode ser realizada de 3 a 5 vezes por semana, dependendo da intensidade e do tempo dedicado aos treinamentos”, observa Dr. Miguel Leal Andrade Neto, especialista do Serviço de Otorrinolaringologia do HP. O esporte favorece a melhora de todo o trato respiratório, principalmente, por ser praticado ao ar livre e sob as temperaturas amenas do clima tropical brasileiro, consideradas ideais para os portadores de rinite alérgica na avaliação do especialista. Correr atrás da bola ajuda ainda a prevenir crises alérgicas que afetam nariz e garganta, e ainda inflamações pulmonares como asma, bronquite e enfisema.
Melhora da função respiratória
Nos pulmões, os resultados do bate-bola são percebidos por uma melhora gradual do condicionamento cardiorrespiratório, além de uma recuperação de áreas pulmonares inativas e melhora da expectoração, quando estas limitações estão presentes. “Como todo exercício aeróbio, o desempenho físico durante a prática do futebol favorece a capacidade pulmonar, contribuindo entre outras funções, para a atuação conjunta do coração e pulmões na renovação de oxigênio dos órgãos e demais tecidos do corpo”, explica Dr. César Garcia Machado, médico pneumologista líder da especialidade no HP. Mas, antes de entrar em campo é necessário avaliar a presença de algum tipo de problema respiratório que represente um impedimento para a prática do esporte, como asma, doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC) e todas aquelas que deixam cicatrizes extensas nos pulmões. “Qualquer problema que gere alteração do fluxo aéreo ou mesmo da interação do pulmão com o coração, pode levar a severas limitações na prática do exercício”. Falta de ar intensa e desproporcional à intensidade do exercício é o principal sinal de que algo está errado. Do mesmo modo, a presença de dor ou chiado no peito, tontura, suor excessivo e fraqueza representam sinais precoces de anormalidades que devem ser investigadas imediatamente por um especialista.
Maior resistência cardiovascular
Os benefícios cardiovasculares do futebol são inúmeros: aumento da resistência física e da função cardíaca, prevenção de doenças do coração, estímulo da circulação sanguínea e da vascularização, redução de problemas vasculares nas pernas (varizes, inchaço), combate da aterosclerose (placas de gordura nos vasos sanguíneos). Contudo, por se tratar de um esporte de resistência e alta intensidade, os cardiologistas recomendam cuidados preventivos e regulares aos seus praticantes, principalmente, os “atletas de fim de semana”. “A avaliação médica não é uma condição exclusiva de jogadores profissionais. É indispensável para qualquer iniciante de atividade física, mesmo de menor intensidade que o futebol”, adverte o presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas e líder do Serviço de Arritmia e Eletrofisiologia do HP, Dr. Luiz Pereira de Magalhães. Os exames servem para avaliar riscos eventuais associados à saúde cardiovascular – arritmias cardíacas e alteração nos batimentos cardíacos – e para orientar a realização do esporte. “Quem pratica exercícios regulares e leva uma vida saudável, em qualquer idade, também apresenta problemas cardiovasculares. Se não forem diagnosticadas previamente e tratadas, as arritmias cardíacas podem causar morte súbita”. O cardiologista alerta ainda para o aparecimento de sintomas logo após o esforço físico: desmaio, dor torácica, palpitações fortes e falta de ar súbita.
Aumento do desempenho motor e articular
Uma partida de futebol exige esforço físico intenso dos jogadores, que se movimentam de forma contínua, alternando deslocamentos velozes e de menor intensidade. Essa característica do jogo exige um físico condicionado por exercícios de alongamento muscular e articular. “Quanto mais fortalecida a musculatura, menor a sobrecarga nas articulações dos quadris, joelhos e tornozelos”, informa o vice-coordenador da Emergência Ortopédica do HP, Dr. Luís Alfredo Gomez Vieira. A prática periódica e orientada do esporte proporciona benefícios importantes ao sistema osteomuscular. O principal deles é o fortalecimento da musculatura dos membros inferiores e a consequente preservação das articulações. Também há o desenvolvimento dos músculos da panturrilha, coxas, glúteos, costas e abdome; aumento da força e flexibilidade, aumento da densidade óssea e a decorrente redução dos riscos de osteoporose e fratura. Para os adeptos do bate-bola apenas nos finais de semana, fica o alerta do risco maior de lesões. “O futebol é um esporte de contato. Mesmo bem condicionados, os seus praticantes estão sujeitos a diversos tipos de lesão. Porém, quanto maior o preparo físico, menos propenso o jogador estará a lesões”, observa. A dica do ortopedista é iniciar a prática do esporte gradativamente, de preferência orientada por um preparador físico, e tendo avaliações clínicas e ortopédicas prévias. Uma vez contundido, o jogador deve buscar tratamento especializado.