Tempo de refletir
03 October 2014
O labor médico é singular. Nenhuma outra profissão tem tantas prerrogativas em definir realidades como a Medicina. Aos médicos é dado o poder de estabelecer o que é saúde e doença, o que é sanidade ou insanidade. O médico é pessoalmente responsável por sua própria capacidade de fornecer bons cuidados. Seu profissionalismo traduz esta responsabilidade em três diferentes domínios: experiência, conhecimento técnico e valores éticos (honestidade, respeito e confiabilidade) e, principalmente, noções sobre atenção e servir.
A Medicina como profissão é uma atividade que não somente requer o apelo de lidar com pessoas, como evoca uma grande capacidade de atualização ao longo da vida. Tornar-se médico significa estar permanentemente em processo de formação por dezenas de anos. Em boa parte, o êxito na carreira de um indivíduo pode ser explicado por essa adesão incondicional à vida profissional. É uma atividade que no mundo do trabalho se confunde com a própria vida do médico.
Mas ela tem sido profundamente impactada com o desenvolvimento tecnológico. E tem encontrado alguma dificuldade para se alinhar como ciência direcionada à melhoria da qualidade da saúde. Muitos são os determinantes para esta dificuldade: excesso de trabalho, jornada prolongada, baixa remuneração, más condições de atuação, excesso de responsabilidade, interferência arbitraria das políticas públicas e perda de autonomia – para citar alguns fatores.
Faz tempo que ser médico perdeu o significado de prestígio, status e destaque social, tanto para o seu núcleo familiar como para a sociedade em geral. Mas será possível resgatar esta cultura de profissionalismo em harmonia com as expectativas dos pacientes? Tudo isso precisa ser devidamente analisado e precisamos corrigir a nossa trajetória. Este será o nosso desafio para os próximos anos.