Tireoide, fertilidade e gravidez: O que precisamos saber?
03 February 2015
As disfunções de tireoide ocorrem com frequência nas mulheres em idade fértil. O hipotireoidismo (redução dos níveis de hormônio da tireoide) é uma das causas mais frequentes de infertilidade conjugal, embora muitas vezes esquecido na avaliação do casal infértil. Na mulher, os hormônios da tireoide são essenciais para a fertilização e ovulação, mas também são muito importantes, no homem, para a produção de espermatozoides. Uma disfunção na tireoide pode desequilibrar o aparelho reprodutor e causar alterações menstruais, interferência nos hormônios sexuais e dificuldade de ovulação. Além disso, é comum encontrarmos redução da libido, sangramento menstrual excessivo ou ausência da menstruação e maior incidência de abortos espontâneos e de partos prematuros. No homem, o hipotireoidismo pode causar redução dos níveis de hormônios masculinos, disfunção erétil e redução no número de espermatozoides.
Vários estudos demonstram que o tratamento do hipotireoidismo tem importante impacto sobre a taxa de gravidezes. Em clínicas de infertilidade ou no consultório ginecológico, toda mulher deve ser submetida à dosagem de TSH (hormônio estimulante da tireoide) e de anticorpos antitireoidianos, com o objetivo de diagnosticar qualquer disfunção da tireoide. Mulheres que já possuem o diagnóstico de hipotireoidismo por Tireoidite de Hashimoto devem ter seus níveis hormonais cuidadosamente monitorados por um endocrinologista.
Já nas gestantes, a própria gravidez causa variações nos níveis de hormônios tireoidianos e problemas da tireoide são ainda mais frequentes, ocorrendo em 10 a 15% das mulheres. Existe uma grande preocupação com o risco de baixa oferta de hormônios tireoidianos durante as fases iniciais da gestação em que o feto depende basicamente da fonte materna para suprir suas necessidades, pois sua própria tireoide só começará a funcionar por volta da 12ª semana de gestação. As alterações hormonais que ocorrem durante a gestação exigem adaptações que nem sempre são possíveis em tireoides doentes ou em mulheres que dependem do hormônio tireoidiano sintético, exigindo atenção particular do ginecologista-obstetra e do endocrinologista. É possível que um rastreamento sistemático da função tireoidiana nas mulheres grávidas possa identificar a maioria dos casos de disfunção e possibilite o diagnóstico precoce.
O hipotireoidismo aumenta o risco de descolamento de placenta, parto prematuro, estresse fetal e mortalidade intrauterina. Filhos de mães com hipotireoidismo não tratado estão mais sujeitos a baixo peso ao nascimento e desenvolvimento neuropsicológico prejudicado, inclusive com redução do coeficiente de inteligência (QI). O manejo do hipotireoidismo na mulher grávida tem algumas particularidades que devem ser conhecidas e compreendidas para que haja tomada correta da medicação e ajuste adequado da dose. A escolha da dose adequada depende de três fatores básicos: o momento da gestação, pois as necessidades maternas do medicamento aumentam durante a gravidez; causa do hipotireoidismo e a sua gravidade.
Em conclusão, os hormônios tireoidianos são fundamentais para a vida reprodutiva saudável e sua reposição, quando necessário, é fundamental para o adequado desenvolvimento da gravidez e para o desenvolvimento do feto.