Sonolência e trânsito: uma parceria desastrosa!
03 July 2015
A mais destacada causa de acidentes de carros e veículos em geral é o álcool. Campanhas agressivas, multas pesadas e bafômetros espalhados por ruas e estradas do Brasil têm efetivamente contribuído para diminuir o número de acidentes. Entretanto, o sono também tem sido o grande vilão nesta história. Afinal, será que você nunca ouviu a expressão – o motorista estava bêbado de sono? Inúmeros trabalhos científicos revelam que alguém privado de sono comete muito mais erros na direção de veículos do que um indivíduo alcoolizado. Os reflexos diminuem consideravelmente e os erros e omissões em cadeia resultam em decisões confusas e equivocadas que, invariavelmente, levam ao desastre.
Contudo, não existe bafômetro para a sonolência. E, pior ainda, álcool e sono não se somam – se multiplicam! Beber aumenta a sonolência, que piora no final da festa justamente na hora de pegar o carro e retornar para casa. O motorista submetido aos rigores de uma viagem extenuante, profissional ou não, sabe que abrir a janela do carro, cantar, jogar água fria no rosto, tomar café, energético, “rebites”, etc., não resolvem o problema biológico da necessidade incontrolável de sono; simplesmente, o adiam por algumas horas, até que esta barreira se rompe e o acidente ocorre, geralmente, de forma trágica.
As pessoas que são portadoras de Apneia do Sono – geralmente homens de meia idade, “gordinhos”, que roncam e sufocam dormindo – apresentam hipersonolência diurna e dormem em plena atividade motora, onde quer que estejam. Estas pessoas representam de 20% a 32% da população adulta de nossas metrópoles. Em função deste risco adicional para o acidente óbvio, em 15 de fevereiro de 2008, o CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) tornou obrigatória a avaliação dos distúrbios do sono para os motoristas profissionais. O exame, chamado Polissonografia, é considerado padrão ouro no diagnóstico de mais de 70 doenças associadas ao sono, tais como Apneia, ronco e insônia. Uma noite é suficiente para investigar os fatores que interferem na qualidade do repouso e buscar o tratamento individual mais efetivo.
No Laboratório do Sono do Hospital Português essa avaliação tem duração mínima de 6 horas, podendo ser feita de segunda-feira a sábado (incluindo feriados), das 20h às 6h30. Enquanto dorme, o paciente é monitorado por sensores (conectados a computadores) que são fixados sobre a sua pele, registrando simultaneamente suas múltiplas variáveis fisiológicas: posição do corpo, movimento dos olhos, atividade elétrica cerebral, atividade dos músculos, oxigenação do sangue, fluxo e esforço respiratório, frequência cardíaca e ronco.
As poucas empresas de transporte no país que cumpriram esta determinação viram seu histórico de acidentes diminuir sensivelmente, com ganhos para todos: motoristas, empresas, passageiros, familiares e, portanto, toda a sociedade. Enfim, a pergunta que não pode silenciar é até quando faremos de conta que esta lei é cumprida ou, melhor, que existe, mas “não pegou”?