Obesidade e Câncer de Mama
06 October 2015
Um estudo inédito com 191 mulheres baianas acima de 30 anos, confirmou o que pesquisas com populações de outros países já apontavam: mulheres com obesidade têm 2,57 mais chances de ter câncer de mama do que mulheres com peso saudável, sobretudo, aquelas que se encontram na pós-menopausa. O estudo realizado entre 2012 e 2014, por pesquisadores das especialidades de mastologia e oncologia do Hospital Português (HP), inova ao revelar dados precisos sobre o perfil de saúde da mulher baiana – reduzindo a lacuna na área de pesquisas no Brasil – e, por isso, deve contribuir para a implementação de estratégias mais individualizadas de prevenção e combate da obesidade e do câncer de mama. O coordenador da pesquisa e membro do Serviço de Mastologia do HP, Dr. César Augusto Machado, destaca que em geral os dados usados como referência retratam populações estrangeiras, desconsiderando as características populacionais de cada região. Como exemplo o especialista cita o escore de Gail, empregado internacionalmente na análise das chances de desenvolvimento do câncer de mama com base em estudos norte-americanos e determinante para a definição de condutas invasivas, como a terapia antihormonal e a mastectomia profilática. “Essa universalização acarreta variações importantes nos resultados encontrados nas diferentes populações, pois ignoram características próprias de cada etnia que são relevantes para o diagnóstico e a definição do tratamento”.
Dados inéditos sobre a população baiana
O estudo “Associação entre índice de massa corpórea e câncer de mama em pacientes de Salvador, Bahia” foi publicado em agosto deste ano na Revista Brasileira de Mastologia, tendo avaliado dois grupos femininos: um com obesidade ou sobrepeso e outro com índice de massa corpórea (IMC) dentro da normalidade. Do total de mulheres avaliadas (a maioria na menopausa), 68 possuíam carcinoma mamário, destas 28% eram obesas. Já no grupo das que não apresentavam câncer, apenas 13% estavam acima do peso. Os resultados encontrados demonstram a relação entre obesidade e câncer de mama, especialmente, no período pós-menopausa.
Para compor os grupos, foram selecionadas pacientes acompanhadas pelos pesquisadores sem diagnóstico prévio de qualquer tipo de câncer – tendo a ausência de doença comprovada em exames atualizados. Em ambos os grupos foram excluídas mulheres com história pessoal de câncer e pacientes que não aceitaram participar da pesquisa ou assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O perfil da população estudada foi estabelecido com base na frequência de variáveis selecionadas, tais como idade e IMC determinado pela Organização Mundial de Saúde – sendo considerado índice de sobrepeso entre 25 e 30 quilos por metro quadrado e de obesidade os valores que excedem essa medida. “A partir dessa observação em uma amostra de pacientes baianas comprovamos o excesso de peso como verdadeiro fator de risco para surgimento da doença”, informa Dr. César Augusto Machado. O especialista destaca a relevância do estudo da obesidade como fator de risco para o câncer de mama por se tratar de um elemento modificável e de fundamental importância para a clínica médica, mastologia e oncologia na orientação das pacientes.
Dra. Luciana Landeiro, pesquisadora do estudo e integrante da equipe do Centro de Oncologia HP, avalia que os resultados observados na pesquisa devem fomentar a busca por aperfeiçoamento dos recursos atualmente empregados na prevenção e tratamento da obesidade e do carcinoma mamário. “Alguns estudos brasileiros já associam essas duas patologias, mas nenhum deles estudou como se comportam na população baiana. Essas informações mais precisas sobre a nossa região tornam tangível a instituição de métodos preventivos e de tratamento mais adequados às necessidades da mulher brasileira”, avalia.
Comportamento da obesidade e do câncer de mama
A obesidade já está presente em 17,5 % da população do Brasil e deve atingir uma em cada 5 pessoas, até 2025. Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), hoje, metade da população adulta do país está com sobrepeso. Essa mudança na silhueta ocorreu ao longo das últimas duas décadas, elevando em cerca de 40% o Índice de Massa Corpórea – IMC do brasileiro. Dr. César Augusto Machado explica que a maior concentração de células adiposas (que armazenam gorduras) gera consequências endócrino-metabólicas danosas ao corpo humano. “O excesso de peso provoca aumentos expressivos na concentração de insulina sérica (hormônio regulador do açúcar no sangue), maior liberação de substâncias inflamatórias (citocinas), além de conversão periférica aumentada de hormônios (estrógenos)”. Segundo o especialista, tais alterações podem estar relacionadas com o surgimento de neoplasias malignas, entre elas o câncer de mama.
Assim como outros tumores malignos, o carcinoma mamário tem apresentado incidência cada vez maior em todo o mundo. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer – INCA, a patologia responde por 22% dos casos novos de câncer a cada ano e deve acometer mais de 57 mil pessoas até 2016. A ocorrência da patologia está comprovadamente relacionada a diversos fatores de risco, sendo a obesidade um importante motivador. “Mulheres com obesidade produzem predominantemente um hormônio chamado de leptina, devido à gordura acumulada no corpo, que favorece a formação do câncer. Nas mulheres com peso normal há produção predominante de outro hormônio (adiponectina), que dificulta a formação do tumor maligno”, explica o médico.
Além de duplicar as chances de uma mulher desenvolver câncer, a obesidade está vinculada à dificuldade diagnóstica (que quase sempre leva à descoberta tardia do tumor e à sua progressão no organismo), bem como, ao maior tempo de cirurgia, de internação e surgimento de complicações já conhecidas para a saúde como hipertensão, problemas cardiovasculares e diabetes. Por considerarem esses fatores, os achados na população baiana são categóricos quanto a necessidade de mudança nos hábitos de vida através da adoção de práticas saudáveis, como alimentação equilibrada, atividade física e consulta periódica a um médico de confiança.