Nos últimos anos, pesquisadores e instituições renomadas, em todo o mundo, têm demonstrado como um sono de qualidade é fundamental para o processo cognitivo e o desempenho cerebral satisfatório. Em particular, o chamado sono REM, estágio conhecido como o sono dos sonhos, tem sido alvo de inúmeras pesquisas por ser o maior responsável pelo desenvolvimento da criatividade e, sobretudo, da capacidade de resolução de problemas durante a vigília. Investigando essa questão, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos publicou um relatório, em agosto de 2015, onde afirma que o horário de aulas no turno da manhã dos ensinos fundamental e médio norte-americanos é inadequado para o aprendizado dos jovens, por iniciar muito cedo e privar o organismo do tempo necessário para a sua regeneração durante o sono. Segundo o documento, o ideal seria que as aulas começassem às 8h30 – horário defendido também pela Academia Americana de Pediatria.
O coordenador do Laboratório do Sono do Hospital Português, Dr. Francisco Hora, explica que essa avaliação considera a tendência biológica dos adolescentes para atrasar os horários do sono, ou seja, dormir mais tarde e acordar mais tarde; situação contrária, por exemplo, a que acontece com os idosos. Ao mesmo tempo, alerta para o fato de que o sono REM (aquele estágio que promove o aprendizado e a criatividade) é muito mais prevalente e denso no final da noite, período em que atinge o seu potencial pleno. Dessa maneira, interromper o sono dos jovens às cinco ou seis horas da manhã, para que estejam nas salas de aulas às sete horas, significa na prática comprometer o desempenho da inteligência de rapazes e moças durante as suas horas de estudo. “Essa situação se agrava, especialmente, se considerarmos algumas características da atualidade, como a maior necessidade de tempo para o deslocamento nos centros urbanos, bem como, a intensificação da interatividade com uso de novas tecnologias entre os jovens, em detrimento das horas de sono”, avalia o especialista.
O fato é que as horas diárias de repouso exercem papel essencial no desempenho integral do organismo. Estudos demonstram que crianças, adolescentes, adultos e idosos possuem necessidades físicas específicas de descanso e, por isso, apresentam variações quanto à duração do sono. Entretanto, em qualquer fase da vida, uma boa qualidade de sono resulta em inúmeros benefícios. A consolidação da memória, por exemplo, é função principal do sono e toda a capacidade de aprendizado, concentração e expressão da chamada inteligência, provém do desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo da cognição. No caso de crianças e adolescentes, a possibilidade de dormir bem exerce função indispensável para o desenvolvimento físico e psíquico. “Não raras vezes, “insights” – ideias que obtemos durante o sono – nos levam à solução de um problema cotidiano. Isto, porque somos muito mais criativos sonhando do que acordados”, diz o especialista.
Estudos nessa área realizados com voluntários no Laboratório de Cronobiologia Humana da Universidade Federal do Paraná demostraram como o sono favorece o “insight”. Nas avaliações, os pesquisadores propuseram desafios de videogame aos participantes, que tinham de resolvê-los para avançar nas fases do jogo. O grupo que dormiu uma sesta antes de jogar apresentou um desempenho duas vezes melhor comparado ao grupo que não cochilou. Os estudiosos relataram que esse resultado tem relação com a retenção de aprendizados proporcionada pelo sono. Assim, embora uma sesta de dez a quinze minutos não possibilite acesso à fase REM do sono, representa tempo bastante para preservar a cognição e o raciocínio.
Apesar das pesquisas desenvolvidas por instituições brasileiras e internacionais, ao longo de décadas, relacionadas aos distúrbios do sono, a lógica que define os horários de aulas das escolas de ensino médio e fundamental em diversos países desconsidera todo o conhecimento nesta área, sendo alvo de crítica dos estudiosos da questão. No caso específico dos brasileiros, Dr. Francisco Hora observa que devido a forte influência da luminosidade solar no cronotipo de sono da população, seria ideal que as aulas para adolescentes acontecessem das 9 às 13 horas. Além disso, nessa fase da vida há uma necessidade diária de sono de nove horas, em média. No entanto, durante os dias letivos é comum os adolescentes dormirem em torno de sete horas – uma clara evidência para o especialista de que as autoridades educacionais, assim como a sociedade de uma forma geral, não perceberam ainda os impactos do sono na formação das gerações futuras.
Além de baixo rendimento escolar, a privação sistemática do sono pode acarretar danos orgânicos severos, envolvendo em casos extremos, inclusive, uma maior predisposição para o surgimento de doenças crônicas como o diabetes e a obesidade. “Na condição de professor universitário, convivo com jovens estudantes sonolentos nas salas de aula e vejo que a privação crônica de sono está lhes roubando precocemente a cognição e, sobretudo, a alegria de aprender, tornando-os algumas vezes irascíveis e automatizados”, observa. Com base nessa experiência e em publicações científicas da área, o especialista defende a possibilidade de cada pessoa poder dormir as horas necessárias para o seu restabelecimento físico e mental, não apenas visando a consolidação do aprendizado, mas, principalmente, a conquista de maior qualidade de vida. “Se você dorme bem, o seu desempenho geral é beneficiado, tanto nas atividades motoras quanto no exercício mental. Os estudos comprovam”, conclui.
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