Viver além dos 60 anos — Hospital Português da Bahia
11 de julho de 2016
Viver além dos 60 anos
11 July 2016
Pela primeira vez na história, a maioria das populações no mundo segue um ritmo de envelhecimento acelerado, a expectativa de vida supera seis décadas e a longevidade traz novas perspectivas para a chamada “velhice”. No Brasil, a cada ano, mais de 1 milhão de pessoas ultrapassa essa fronteira sendo consideradas idosas. Enquanto a longevidade avança no país, o IBGE aponta queda nas taxas de fertilidade e natalidade, prenunciando que em menos de 40 anos integraremos o grupo das “nações envelhecidas”, com 30% de idosos. Tais transformações integram o Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde, publicado em 2015, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que recomenda mudanças igualmente profundas no olhar sobre as condições de vida das populações que estão envelhecendo, os futuros idosos. Em diversas partes do mundo, o ideal estético de juventude reforça distorções sobre a terceira idade e o processo de envelhecimento. Para a OMS, muitas percepções e suposições comuns sobre as pessoas mais velhas têm base em estereótipos ultrapassados, visto que a longevidade traz outras possibilidades de vida dependentes de um fator preponderante: a saúde. Assim, o “xis” da questão é como obter qualidade de vida para envelhecer com boa capacidade física e mental. Especialistas do Hospital Português (HP) ajudam a encontrar a resposta derrubando mitos sobre essa fase da vida.
1. Não espere os 60 anos para mudar a alimentação.
A alimentação nutritiva e saudável deve fazer parte da vida de toda pessoa, em qualquer idade, para um envelhecimento fisiológico produtivo e saudável, conforme preconiza a OMS. “Erra quem acredita que o cuidado alimentar deve começar na terceira idade e que idade cronológica avançada inevitavelmente prejudica habilidades físicas e mentais. Não é bem assim. Existem fatores biológicos e comportamentais envolvidos e a alimentação é um dos fatores que mais impacta na forma de envelhecer. Por isso, precisa ser natural e estar adequada a cada momento da vida para suprir as necessidades orgânicas”, observa a chefe de Nutrição do HP, Gildete Fernandes. Ela explica que no idoso, naturalmente, haverá diminuição de algumas funções encontradas no adulto. Contudo, no idoso saudável, sem doença diagnosticada, será possível minimizar os impactos das alterações fisiológicas, consumindo refeições saudáveis (pobres em gordura e sal), adaptando o preparo dos alimentos e realizando atividade física regularmente, por exemplo. “Não é porque está idoso que precisa de menos nutriente. O idoso precisa da mesma quantidade de cálcio, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais que o adulto. Mas deve atentar para que os alimentos estejam adequados a sua capacidade de mastigação e digestão”. Hidratar-se é igualmente importante, buscando atingir um consumo diário aproximado de 40 ml por quilo de peso. Assim, um idoso com 60 quilos deve consumir cerca de 2 litros de água e outros líquidos. “Esse cuidado ajuda a evitar infecção urinária, ressecamento de fezes, menor produção de saliva, melhorando a mastigação e a percepção do sabor, que ficam comprometidas quando o boca está desidratada”.
2. O paladar e a audição do idoso podem ser melhorados.
Entre as alterações fisiológicas associadas ao envelhecimento está a redução do funcionamento dos órgãos dos sentidos, como o paladar e a audição. Dra. Erika Iglesias, especialista da Emergência de Otorrinolaringologia do HP, explica que a diminuição dos corpúsculos gustativos nas papilas linguais acarreta prejuízo na detecção dos sabores, principalmente, o amargo e o salgado. Além disso, algumas medicações podem piorar o sentido do paladar. “Para compensar essa perda, o idoso pode utilizar temperos naturais e especiarias no preparo das refeições, evitando o consumo de sal e açúcar nos alimentos, que geram risco de alterações pressóricas e glicêmicas”. A otorrinolaringologista informa que raramente alguma doença provoca redução do paladar e, caso isso ocorra, deve ser investigado por um médico especialista visando o tratamento adequado. Com a idade, a audição também costuma ser afetada, principalmente, devido à morte de células ciliadas auditivas, fundamentais para a percepção dos sons. Alguns fatores genéticos e da saúde, como o diabetes e a hipertensão, podem piorar a perda auditiva. “A surdez é muito prejudicial para o idoso, levando ao afastamento social, aumento do risco de acidentes e a depressão. Felizmente, o diagnóstico é facilmente realizado pelo otorrinolaringologista com ajuda de exames simples, como a audiometria. O tratamento, geralmente, é feito com o uso de aparelhos auditivos, promovendo melhora importante da audição e da qualidade de vida”.
3. Idosos precisam ter sono reparador, mesmo dormindo menos.
Coordenador do Laboratório do Sono do HP, Dr. Francisco Hora explica que fatores fisiológicos modificam o padrão de repouso na terceira idade, mas destaca que a boa qualidade do sono deve ser mantida, caso contrário será preciso uma investigação detalhada. “O exame de polissonografia deve ser realizado, sobretudo, quando a percepção de sono não-reparador se torna habitual ou quando as queixas relativas ao sono são expressivas. Por exemplo: roncos, despertar precoce, sonolência diurna, perda de memória, irritabilidade, insônia, pesadelos, enurese (xixi na cama) noturna”. O especialista informa que a principal mudança no sono do idoso diz respeito ao ritmo biológico, com uma forte predisposição para dormir e acordar mais cedo. “Geralmente, os idosos vão dormir às 18, 19 ou 20 horas e acordam às 1 ou 2 horas da madrugada, não conseguindo dormir mais”. Outra característica importante do sono do idoso segundo o médico é a superficialização e fragmentação, ou seja, o sono é muito interrompido por despertares. Apesar disso, não se pode afirmar que pessoas idosas precisem dormir menos, mas que de fato têm menos capacidade de manter o sono profundo e continuado. “Esse fator, muitas vezes, aumenta o risco de doenças que comprometem o sono, tais como artroses, alterações do ritmo urinário e intestinal ou de natureza cognitiva (demências, Parkinson, entre outras). Por outro lado, o idoso que dorme bem, habitualmente é mais saudável do ponto de vista psicossomático e responde melhor ao tratamento de diferentes patologias comuns à sua faixa etária”, compara o especialista, que atende uma média de 30% de idosos no Laboratório do Sono do HP.
4. Envelhecimento não é sinônimo de má qualidade de vida.
Geriatra do Departamento de Associados do HP com atuação na assistência aos pacientes internados na Instituição e membro titular da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Dra. Corina Leal Costa descreve o envelhecimento como a passagem do tempo sobre cada ser, desde o momento da concepção até a hora de morrer. A especialista observa que a OMS considera idosa a pessoa com mais de 60 anos, nos países em desenvolvimento, como o Brasil, enquanto nos países desenvolvidos é considerado idoso quem tem mais de 65 anos. “Essa convenção nos lembra de que o envelhecer acontece todos os dias e só não envelhece quem morre. Durante esse processo há de fato uma degeneração natural dos órgãos como um todo, com perda e lentidão nas funções das células do corpo. Mas, isso não significa que patologias vão ocorrer”. A geriatra ressalta que a forma de envelhecimento muda de pessoa para pessoa, sendo, portanto, um processo individualizado, que envolve o histórico de vida, os hábitos (alimentação, tabagismo, atividade física), a genética, a classe social, o acesso a saúde, entre outros fatores. Logo, quanto mais cedo for iniciado o cuidado para um envelhecer saudável, maior a chance de preservar boa capacidade física e intelectual na terceira idade. “Hoje, o acompanhamento médico regular do geriatra pode prevenir e tratar todas as patologias inerentes ao idoso utilizando o arsenal diagnóstico e terapêutico da medicina preventiva moderna”, diz a especialista, que dá a receita para quem deseja conquistar longevidade com qualidade de vida. “É preciso cultivar hábitos saudáveis. Ter um sono diário reparador, uma dieta balanceada, evitar bebidas alcoólicas e tabagismo, praticar atividade física regularmente, ter uma boa interação social e familiar, manter a sexualidade ativa, não importando a quantidade e sim a qualidade; e também trabalhar a espiritualidade e fé. Afinal, somos muito mais do que um corpo: somos também espírito. Assim, podemos alcançar um envelhecimento bem-sucedido e dar vida aos anos, não apenas somar anos à vida”.
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