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Febre Amarela — Hospital Português da Bahia

11 de maio de 2017

Febre Amarela

11 May 2017

MosquitoO Brasil vive o maior surto de febre amarela observado nas últimas décadas, segundo o Ministério da Saúde (MS). A doença hemorrágica viral aguda é transmitida por mosquitos infectados das espécies Haemagogus, Sabethes e Aedes. No país, o Aedes aegypti, transmissor da Zika, Chikungunya e Dengue, é o principal vetor da enfermidade. Até 20 de abril deste ano, o boletim nº 37 de monitoramento dos casos e óbitos da doença revelou 2,9 mil notificações pelo MS: 681 confirmadas, 768 em investigação, 1.451 descartadas e 234 óbitos. Desde 1942, o Brasil não registrava casos de febre amarela urbana. Na Bahia, nenhum caso humano foi confirmado até o momento e oito notificações são investigadas. Hoje, dos 27 estados brasileiros, 19 possuem recomendação para imunização. Para o líder da Infectologia do Hospital Português e membro do Serviço de Controle de Infecções Hospitalares da Instituição, Dr. Alessandro Farias, esse cenário reacende o alerta para a necessidade de eliminação dos focos de proliferação do mosquito. Confira a entrevista completa!

1. O macaco é o hospedeiro do vírus da febre amarela silvestre, enquanto o homem é o hospedeiro da forma urbana da doença, mas a transmissão só é feita pelo mosquito. O que o senhor diria para quem teme o contágio pelos macacos?

Não há motivos para preocupação com transmissão pelo macaco. A única forma de transmissão da doença é através do mosquito. A morte de macacos representa um alerta da ocorrência de febre amarela em um determinado local. Assim, matar estes animais, além de prejudicar a vigilância da febre amarela, configura crime ambiental. Caso a população encontre macacos mortos ou doentes, deve informar rapidamente ao serviço de saúde do município ou ao Disque Saúde pelo 136.

2. Apesar das terminologias febre urbana e febre silvestre, o vírus é o mesmo?

Sim. A diferença entre os ciclos silvestre e urbano consiste na espécie do mosquito transmissor. No meio silvestre, os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes são os transmissores, no ciclo urbano, é o Aedes Aegypti.

3. O que motivou o atual surto da doença no país após décadas de erradicação?

A febre amarela nunca foi erradicada por completo no Brasil. O vírus amarílico permanece circulante através do ciclo silvestre da doença – manifestando-se em formas de surtos a cada 7 ou 8 anos. Somente a transmissão através do ciclo urbano permanece erradicada, desde 1942. A diferença, desta vez, é a maior abrangência do ciclo silvestre em regiões brasileiras não contíguas, aumentando preocupação.

4. Quais os riscos do contágio? É possível curar a doença?

Todas as regiões brasileiras possuem áreas onde há risco de transmissão. À medida que macacos infectados são encontrados próximos das cidades, aumenta o alerta para a potencial transmissão para humanos nesses locais. A vacina é fundamental no controle da transmissão, sendo indicada para quem vive e/ou visita Salvador, a menos que possua contraindicações. A febre amarela é uma doença grave, passível de cura, mas devido à elevada mortalidade, sua prevenção é de extrema importância.

5. Entre os países com indicação para imunização contra a febre amarela, o Brasil foi o último a seguir a recomendação de dose única de vacina da Organização Mundial de Saúde. Qual a eficácia da dose única? Como o senhor avalia essa decisão?

A OMS já recomenda a vacina de dose única contra a febre amarela há mais de um ano, embasada em estudos que observaram a eficácia da imunização com tal esquema. O MS, seguindo essa recomendação, promove o uso racional do recurso público e consegue abranger uma população maior quando comparado ao esquema anterior (com uma dose de reforço a cada 10 anos), sem comprometer a saúde pública.

6. Quem possui histórico de alergias pode tomar a vacina? Há algum risco?

A vacina está contraindicada para pessoas com histórico de reação alérgica a ovo de galinha, gelatina e/ou ao antibiótico eritromicina, porque é produzida com vírus vivo atenuado em ovos embrionados de galinha e sua composição possui gelatina e eritromicina. Gestantes e pessoas com imunodepressão também não devem ser vacinadas; aqueles com mais de 60 anos devem receber indicação médica. A vacina pode ter como efeitos colaterais febre, sensação de cansaço e dor (de cabeça, muscular ou no local da aplicação). A visceralização é a reação mais grave que pode ocorrer com a vacina, na qual o vírus se comporta semelhante ao vírus selvagem, levando a um quadro clínico similar ao da febre amarela, mas esse risco é muito.

Revista Imagem Real – Maio 2017
http://www.hportugues.com.br/imprensa/revista-imagem-real