O Brasil vive o maior surto de febre amarela observado nas últimas décadas, segundo o Ministério da Saúde (MS). A doença hemorrágica viral aguda é transmitida por mosquitos infectados das espécies Haemagogus, Sabethes e Aedes. No país, o Aedes aegypti, transmissor da Zika, Chikungunya e Dengue, é o principal vetor da enfermidade. Até 20 de abril deste ano, o boletim nº 37 de monitoramento dos casos e óbitos da doença revelou 2,9 mil notificações pelo MS: 681 confirmadas, 768 em investigação, 1.451 descartadas e 234 óbitos. Desde 1942, o Brasil não registrava casos de febre amarela urbana. Na Bahia, nenhum caso humano foi confirmado até o momento e oito notificações são investigadas. Hoje, dos 27 estados brasileiros, 19 possuem recomendação para imunização. Para o líder da Infectologia do Hospital Português e membro do Serviço de Controle de Infecções Hospitalares da Instituição, Dr. Alessandro Farias, esse cenário reacende o alerta para a necessidade de eliminação dos focos de proliferação do mosquito. Confira a entrevista completa!
1. O macaco é o hospedeiro do vírus da febre amarela silvestre, enquanto o homem é o hospedeiro da forma urbana da doença, mas a transmissão só é feita pelo mosquito. O que o senhor diria para quem teme o contágio pelos macacos?
Não há motivos para preocupação com transmissão pelo macaco. A única forma de transmissão da doença é através do mosquito. A morte de macacos representa um alerta da ocorrência de febre amarela em um determinado local. Assim, matar estes animais, além de prejudicar a vigilância da febre amarela, configura crime ambiental. Caso a população encontre macacos mortos ou doentes, deve informar rapidamente ao serviço de saúde do município ou ao Disque Saúde pelo 136.
2. Apesar das terminologias febre urbana e febre silvestre, o vírus é o mesmo?
Sim. A diferença entre os ciclos silvestre e urbano consiste na espécie do mosquito transmissor. No meio silvestre, os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes são os transmissores, no ciclo urbano, é o Aedes Aegypti.
3. O que motivou o atual surto da doença no país após décadas de erradicação?
A febre amarela nunca foi erradicada por completo no Brasil. O vírus amarílico permanece circulante através do ciclo silvestre da doença – manifestando-se em formas de surtos a cada 7 ou 8 anos. Somente a transmissão através do ciclo urbano permanece erradicada, desde 1942. A diferença, desta vez, é a maior abrangência do ciclo silvestre em regiões brasileiras não contíguas, aumentando preocupação.
4. Quais os riscos do contágio? É possível curar a doença?
Todas as regiões brasileiras possuem áreas onde há risco de transmissão. À medida que macacos infectados são encontrados próximos das cidades, aumenta o alerta para a potencial transmissão para humanos nesses locais. A vacina é fundamental no controle da transmissão, sendo indicada para quem vive e/ou visita Salvador, a menos que possua contraindicações. A febre amarela é uma doença grave, passível de cura, mas devido à elevada mortalidade, sua prevenção é de extrema importância.
5. Entre os países com indicação para imunização contra a febre amarela, o Brasil foi o último a seguir a recomendação de dose única de vacina da Organização Mundial de Saúde. Qual a eficácia da dose única? Como o senhor avalia essa decisão?
A OMS já recomenda a vacina de dose única contra a febre amarela há mais de um ano, embasada em estudos que observaram a eficácia da imunização com tal esquema. O MS, seguindo essa recomendação, promove o uso racional do recurso público e consegue abranger uma população maior quando comparado ao esquema anterior (com uma dose de reforço a cada 10 anos), sem comprometer a saúde pública.
6. Quem possui histórico de alergias pode tomar a vacina? Há algum risco?
A vacina está contraindicada para pessoas com histórico de reação alérgica a ovo de galinha, gelatina e/ou ao antibiótico eritromicina, porque é produzida com vírus vivo atenuado em ovos embrionados de galinha e sua composição possui gelatina e eritromicina. Gestantes e pessoas com imunodepressão também não devem ser vacinadas; aqueles com mais de 60 anos devem receber indicação médica. A vacina pode ter como efeitos colaterais febre, sensação de cansaço e dor (de cabeça, muscular ou no local da aplicação). A visceralização é a reação mais grave que pode ocorrer com a vacina, na qual o vírus se comporta semelhante ao vírus selvagem, levando a um quadro clínico similar ao da febre amarela, mas esse risco é muito.
This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.
Strictly Necessary Cookies
Strictly Necessary Cookie should be enabled at all times so that we can save your preferences for cookie settings.
If you disable this cookie, we will not be able to save your preferences. This means that every time you visit this website you will need to enable or disable cookies again.