Câncer de tireoide avançado; terapia-alvo oferece a solução — Hospital Português da Bahia
19 de setembro de 2017
Câncer de tireoide avançado; terapia-alvo oferece a solução
19 September 2017
Em todo o mundo, o câncer de tireoide vem apresentando incidência crescente na população (3,8% de aumento anual no número de casos), em relação a outros tipos de cânceres, alcançando a quinta posição entre as mulheres e taxa de mortalidade também ascendente. Nos últimos anos, descobriu-se uma nova modalidade terapêutica para diversos tipos de cânceres: a terapia-alvo, mais conhecida como inibidores de multiquinases (IMK). Hoje, o paciente diagnosticado com câncer de tireoide avançado, cujo tumor apresenta resistência ao tratamento convencional, com radioiodo, pode dispor dessa alternativa terapêutica altamente promissora na promoção de melhores resultados.
Entre 2016 e 2017, fui o primeiro endocrinologista brasileiro a realizar pós-doutorado em Oncologia Endócrina no maior centro de referência de luta contra o câncer da Europa, o Institut Gustave Roussy, em Paris, na França. Lá, o uso dos inibidores de multiquinases, um tipo de proteína do organismo, é a mais nova arma no combate ao câncer de tireoide. Trata-se de uma nova classe de medicamentos já usados no manejo do câncer, como tumores de fígado e rim. No Brasil, a ANVISA aprovou três desses medicamentos para o tratamento do câncer de tireoide avançado: Sorafenibe (Nexavar®), Lenvatinibe (Lenvima®) e Vandentanibe (Caprelsa®). O objetivo destas medicações é bloquear moléculas específicas das células tumorais, interferindo na divisão e crescimento celular sem causar grandes danos nas células normais. Isto representa um avanço importante se compararmos com a quimioterapia tradicional que, habitualmente, consegue interromper o crescimento das células malignas, mas também gerando danos às células normais.
Os inibidores de multiquinases não são capazes de curar o câncer, mas conseguem impedir o seu crescimento por meses, ou até anos, aliviando os sintomas relacionados à progressão tumoral. Este tratamento nem sempre é viável para todos os casos, pois depende de uma avaliação multidisciplinar do paciente e de diversos fatores clínicos, incluindo a coexistência de outras doenças. No Hospital Português, alguns pacientes já aproveitam os benefícios desta terapia inovadora e os resultados observados são favoráveis. Nesse tipo de tratamento há necessidade de acompanhamento rigoroso com o médico endocrinologista, pois estas drogas trazem efeitos colaterais que requerem manejo específico, já que nem todos apresentam o mesmo efeito adverso e na mesma intensidade. Contudo, se os sintomas forem importantes, o médico especialista saberá discutir sobre as alternativas, que podem envolver a troca por outro IMK, interrupção temporária de tratamento ou redução da dose.
Ao ser diagnosticado com uma doença nodular (nódulo) de tireoide, o paciente deve procurar um médico endocrinologista, que é o especialista habilitado para a avaliação clínica e testes adicionais, como ultrassonografia, punção da tireoide, dosagens hormonais e testes moleculares, que podem confirmar se o nódulo é benigno ou não. Prevenir ainda é a melhor forma de evitar o diagnóstico do câncer em estágios mais agressivos.
*Endocrinologista/Tireoidologista do Hospital Português, professor da Universidade Federal da Bahia, com doutorado em Endocrinologia e pós-doutorados em doenças da tireoide nas Universidades de Chicago (EUA), Sorbonne (França) e Paris Saclay (França).
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