Fundamental na regulação do que chamamos relógio biológico – aqueles padrões que se repetem diariamente em nossas vidas, como fome, sede, sono, dormir e acordar – a melatonina é um dos hormônios que tem tido a sua função e importância mais analisadas, na atualidade. O foco das pesquisas é saber se, afinal, o desempenho desse hormônio no organismo humano abre uma nova perspectiva para a prevenção e tratamento do câncer. De acordo com a especialista em tumores femininos do Centro de Oncologia Hospital Português, com atuação no Ambulatório NOB, Dra. Renata Cangussú, os diversos estudos já realizados até hoje, envolvendo o uso da melatonina na terapia do câncer, apontam nessa direção. “Pesquisas nesse campo vêm crescendo exponencialmente, no Brasil e no mundo, tendo superado a marca de 500 publicações, no último ano. Nessas análises, fica evidente a contribuição da melatonina no combate aos diferentes tipos de câncer”, destaca.
Melatonina e câncer de mama
Uma das pesquisas mais recentes nessa linha, publicada pela Universidade de Harvard, em agosto, afirma que sim; o hormônio regulador do sono é um adjuvante importante no enfrentamento do câncer de mama. Por mais de duas décadas (1989-2013), os cientistas observaram o padrão de sono de 110 mil mulheres, relacionando baixos níveis de melatonina no organismo ao maior risco para o câncer de mama. “É o que chamamos de estudo observacional. A análise comparou a dosagem de melatonina urinária e o padrão do sono das mulheres avaliadas, identificando maior incidência de câncer de mama naquelas com produção de melatonina interrompida por exposição à luz artificial ou trabalho noturno. Diversas pesquisas têm confirmado essa relação”, reitera o especialista do Serviço de Mastologia do HP, Dr. César Augusto Machado.
O tema tem sido objeto de estudo há pouco mais de um século. Dra. Renata Cangussú observa que as primeiras associações da melatonina com o câncer ocorreram depois que a administração do hormônio em ratas conseguiu evitar o aparecimento de câncer de mama, em 50%. Análises posteriores identificaram que mulheres com câncer de mama apresentavam redução de 31% da melatonina urinária. Já o período entre o final da década de 1990 e o início dos anos 2000 foi marcado pela tentativa de decifrar o mecanismo de ação da melatonina na origem do câncer. “As ações da melatonina na mama parecem envolver não apenas a capacidade de inibir o crescimento tumoral, mas, também, a morte celular. Além disso, o hormônio é considerado uma molécula naturalmente anti-angiogênica, ou seja, impede a formação de novos vasos sanguíneos que nutrem o tumor, causando o seu crescimento”, informa.
A ação da melatonina no combate ao câncer foi tema da revista científica Oncotarget, em janeiro deste ano. Após revisar os conteúdos já publicados sobre o assunto, o periódico atestou a capacidade inibitória da melatonina, tanto em tumores de mama agressivos (RH negativo), quanto naqueles menos agressivos (RH positivos). “Essa revisão considera a melatonina uma importante aliada na prevenção de tumores malignos da mama, assim como um adjuvante no tratamento do câncer. O hormônio também é capaz de atenuar efeitos colaterais induzidos pela quimioterapia, melhorando a qualidade de vida e fadiga das pacientes, provavelmente, em consequência da melhor qualidade do sono”, afirma Dra. Renata Cangussú.
Produção natural x reposição sintética
A melatonina é um hormônio secretado naturalmente no cérebro, pela glândula pineal, tendo níveis de produção intimamente associados à qualidade do sono. Assim, o adormecimento profundo (sono REM, caracterizado por movimentos oculares rápidos) e em completa escuridão são condições essenciais à sua produção. “A melatonina é o nosso principal agente de regulação interna. Somos animais circadianos, isto significa que nos regulamos em torno das 24 horas do dia. Na falta desse hormônio, comprometemos o sono, o relógio biológico e, consequentemente, a imunidade. Sabe-se que as disfunções do sono são uma porta aberta para diversas doenças”, destaca o coordenador do Laboratório do Sono do Hospital Português, Dr. Francisco Hora, responsável pelo exame de polissonografia, que diagnostica o padrão do sono.
Embora seja comercializada em países como os Estados Unidos, a forma sintética da melatonina (produzida em laboratório) ainda não está autorizada para venda no Brasil, nem possui uso regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Diferentemente do uso terapêutico em pacientes com câncer, não há estudos sobre a segurança e eficácia do uso prolongado e indiscriminado da forma sintética desse hormônio. A recomendação é estimular sua produção orgânica através de uma boa noite de sono”, alerta o mastologista, Dr. César Augusto Machado. Dentre os cuidados auxiliares da produção natural da melatonina, os especialistas destacam aqueles comumente relacionados à geração de saúde e qualidade de vida, como: praticar exercícios físicos regularmente, dormir no escuro, evitando estímulos luminosos de equipamentos eletrônicos, além de controlar o estresse e a alimentação perto da hora de dormir.
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