Boas relações e saúde mental — Hospital Português da Bahia
6 de junho de 2018
Boas relações e saúde mental
06 June 2018
Para traduzir características presentes nas relações atuais (como individualismo e efemeridade), o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, estabeleceu conceitos como “modernidade líquida” e “nada é feito para durar”. Seu pensamento reflete as mudanças no modo de vida, responsáveis por interações fugazes (conexões e desconexões), em contraponto ao isolamento, dificuldade de manter laços, angústia, ansiedade, depressão e relações instáveis, no mundo globalizado. É quando Sociologia e Medicina se aproximam. Especialista do Serviço de Neurologia do Hospital Português, Dra. Jesângeli Dias, observa que diversos aspectos interferem no bem-estar e saúde mental; a qualidade dos vínculos interpessoais é um deles – e não menos importante! Nesta entrevista, a neurologista revela como a afetividade, qualidade de vida e saúde mental estão interligadas e afetam o comportamento humano. Confira!
1. Como as relações sociais, sejam elas amorosas, de amizade ou profissionais, beneficiam o bem-estar e equilíbrio mental?
Quando falamos de bem-estar e equilíbrio mental estamos falando de saúde mental, que pode ser definida, também, como: estar bem consigo e com os outros, sabendo lidar com as contingências da vida e as emoções, não somente boas, mas, principalmente, as ruins (medo, raiva, ódio, ciúmes, culpa, frustrações, etc.). Para que as relações sociais, amorosas, de amizade ou profissionais, sejam satisfatórias, é preciso uma boa saúde mental. Contudo, quando os relacionamentos se processam de forma inadequada, a saúde mental pode ser comprometida.
2. A que devemos atentar nas experiências interpessoais?
As relações interpessoais são uma fonte importante de feedback, a respeito de quem pensamos que somos e de como construímos nosso “eu”. A imagem que temos de nós mesmos e a forma como nos sentimos sofrem influência importante desta inter-relação. Não somos somente o que pensamos ser; na realidade, somos o resultado daquilo que somos e da forma como somos vistos pelo outro. Nesse contexto, portanto, o equilíbrio mental sustenta relações satisfatórias, saudáveis, ao mesmo tempo em que é nutrido por estas experiências.
3. Boas relações podem interferir nos processos de angústia e depressão?
Sim. Sentir-se amparado, em segurança, amado, aceito e valorizado contribui enormemente para o bem-estar do indivíduo. Em situações adversas, relacionadas a problemas de ordem material, laboral, social ou de saúde, possuir relações afetivas fortes e harmônicas, contribui muito para que o indivíduo se sinta encorajado a procurar soluções para os seus problemas e a enfrentar a situação adversa em que se encontra.
4. O individualismo é um fator prejudicial ao bem-estar?
Individualismo é uma palavra muitas vezes utilizada de forma inadequada e pejorativa. Não é sinônimo de egoísmo. Está mais relacionado à capacidade de exercer a própria individualidade, com a conquista de uma autonomia, o que é algo muito positivo. Pessoas individualistas podem preferir um convívio social mais restrito, contudo satisfatório, enquanto outras preferem uma vida mais solitária, por não encontrar muita gratificação nas interações humanas. Isto não significa, portanto, que não vivam em harmonia consigo próprias.
5. Como a qualidade de vida e saúde mental estão interligadas?
Qualidade de vida é um termo abrangente, com definição ampla e caráter individual, não somente social. Depende de condições materiais, individuais e coletivas, da saúde física e mental de cada um, do grau de realização pessoal, da inserção social no meio em que se vive e, obviamente, da qualidade das relações interpessoais. Os países considerados “mais felizes” (Noruega, Dinamarca, Finlândia, dentre outros), tidos com boa qualidade de vida segundo parâmetros econômicos e sociais, são, também, os que têm maior índice de suicídio. Parece um paradoxo, mas ausência de familiares, amigos e baixa autoestima são fatores apontados como responsáveis por este fato. Logo, estar em harmonia afetivamente, na vida familiar, amorosa e social afeta positivamente a saúde mental e, obviamente, a percepção pessoal de qualidade de vida e felicidade.
This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.
Strictly Necessary Cookies
Strictly Necessary Cookie should be enabled at all times so that we can save your preferences for cookie settings.
If you disable this cookie, we will not be able to save your preferences. This means that every time you visit this website you will need to enable or disable cookies again.