A capacidade do esporte de entreter, divertir, aglutinar pessoas e proporcionar a liberação de sentimentos intensos, fascina e atravessa gerações, desde a antiguidade. Entre os brasileiros, é no futebol que vemos essa vibração mais generalizada. Quanto mais importante o jogo, maior a sobrecarga emocional do torcedor. Diante da bola e de cada jogada, o cérebro reage, liberando substâncias, na corrente sanguínea, que impactam diretamente no coração. A alegria intensa ou angústia provocam batimentos acelerados e até sensação de aperto no peito. Nada mais natural, já que as emoções fazem parte do ser humano. Mas, para quem leva uma rotina pouco saudável e tem histórico de doença cardiovascular, é preciso cuidado, de acordo com o especialista pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e cardiologista do Serviço de Arritmia do Hospital Português, Dr. Alexsandro Fagundes. “O coração é um órgão sensível às nossas mais diversas emoções, sejam elas boas ou ruins. Quem tem fator de risco cardiovascular e se expõe a sobrecargas de estresse aumenta as chances de eventos cardíacos, mesmo em situações de lazer, como o futebol”, observa.
Diversas pesquisas científicas, nacionais e internacionais, apontam a relação existente entre coração e sentimentos. Um dos estudos mais abrangente nessa área, o INTERHEART, avaliou mais de 30 mil indivíduos, em 52 países, estabelecendo uma incidência 60% maior de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) em pessoas que vivenciam situações de grande sobrecarga emocional. Outras pesquisas nesse âmbito vinculam o surgimento da Miocardiopatia de Estresse Adrenérgico, também conhecida como “síndrome do coração partido”, a estados de forte emoção. Para Dr. Alexsandro, os resultados das análises dão apenas uma medida de como o comportamento humano interfere na função cardíaca e mostram, ainda, a vulnerabilidade da estrutura do coração às nossas escolhas e sentimentos diários – do alimento que comemos ao nível de estresse a que nos expomos. “Esse conhecimento deve servir para estimular o cuidado com a saúde, através de atitudes preventivas, como uma dieta saudável, rotina de exercícios físicos e avaliação médica periódica. Afinal, sentir boas emoções em momentos de lazer pode e deve fazer bem ao coração e ao organismo como um todo”, observa.
Em época de Copa do Mundo, a constatação vale, também, para inspirar a reavaliação de uma clássica combinação nacional: partida de futebol, cerveja gelada, petiscos excessivamente salgados e vibração intensa. É quando os exageros devem ceder lugar à cautela. Evidências científicas sobre as reações emocionais do torcedor brasileiro, seu estilo de vida e as consequências para a saúde cardiovascular, reafirmam a maior incidência de eventos cardíacos, durante os jogos de campeonatos importantes. Um exemplo é o estudo “Copa do Mundo de futebol como desencadeador de eventos cardiovasculares”, da Universidade de São Paulo (USP), que utilizou dados de internações hospitalares pelo SUS, de 1998 a 2010. As razões para este desfecho são múltiplas: abuso no consumo de bebidas alcoólicas e comidas gordurosas; ausência de cuidados prévios com a saúde, predisposição para cardiopatias e liberação de hormônios como a adrenalina, que comprimem as artérias, aceleram a frequência cardíaca e elevam a pressão arterial.
“O risco maior envolve pessoas com alguma doença preexistente, que desconhecem tal condição ou não realizam tratamento adequado”, adverte o cardiologista. É o caso, por exemplo, de portadores de aterosclerose, arritmias, obesidade, colesterol descompensado, diabetes e hipertensão arterial; condições que predispõem ao surgimento de cardiopatias. Quando tais problemas se associam a um estilo de vida inadequado (sedentarismo, alimentação desequilibrada, consumo regular de cigarros e bebidas alcoólicas), o perigo se agrava; pois, em muitos casos, os problemas que atingem o coração demoram a manifestar sintomas e se apresentam de diferentes formas, dificultando o reconhecimento – falta de ar, dor no peito, palpitação, taquicardia, arritmias, tontura, isquemia miocárdica (angina e infarto) e, em casos gravíssimos, a morte súbita. Para o cardiologista, a melhor forma de cuidar da saúde do coração é com acompanhamento médico periódico, pelo menos, uma vez ao ano. “Esse cuidado preventivo favorece diagnósticos precoces e a adoção de medidas terapêuticas efetivas, evitando o agravamento de doenças preexistentes”, destaca.
Em se tratando de pessoas com quadros agudos de ansiedade ou estresse, dois problemas tão presentes na vida moderna, a orientação médica é buscar suporte psicoemocional. A terapia psicológica realizada por profissionais habilitados da Psicologia e/ou Psiquiatria visa auxiliar no processo de autoconhecimento para o melhor enfrentamento de situações de forte carga emotiva. Caso haja indicação, o paciente pode dispor, ainda, do uso de medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos (contra ansiedade). Dr. Alexsandro observa que tanto a alegria extrema, quanto a tristeza, impactam na saúde física e mental. Logo, quando há dificuldade de lidar com as próprias emoções e prejuízos no convívio social é hora de buscar a ajuda de especialistas para um acompanhamento multidisciplinar. “Além de controlar os fatores de risco cardíaco, o acompanhamento especializado auxilia no resgate do bem-estar e da qualidade de vida”, conclui.
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