Os surtos recentes de doenças infecciosas preveníveis, como sarampo e febre amarela, na população brasileira, dão um sério indício da baixa imunização de adultos e crianças no País. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), a adesão da comunidade às campanhas de vacinação é a pior dos últimos tempos. As consequências deste panorama são alarmantes: envolvem desde o risco potencial de novas epidemias até o retorno de patologias consideradas já erradicadas em nosso território. Para o líder da infectologia do Hospital Português, Dr. Alessandro Farias, diversos fatores motivam este cenário, sobretudo, a desinformação. “Buscar a imunização apenas em momentos de surtos de infecção gera alta demanda social e risco de escassez de vacinas. É preciso mudar essa cultura e procurar os postos de saúde ao longo do ano, para a vacinação gratuita, conforme o calendário vacinal de saúde”, orienta.
No caso das crianças, a situação é ainda mais preocupante, devido à maior vulnerabilidade do sistema imunológico, ainda em desenvolvimento. “O recém-nascido ou menor de cinco anos, que não foi vacinado, está exposto a uma série de doenças graves e de fácil contágio, que podem ser evitadas pela imunização”, adverte a médica neonatologista chefe da UTI Neonatal da Maternidade Santamaria, Dra. Irene D´Ávila. A especialista explica que o calendário vacinal contempla todas as doses necessárias para cada fase do desenvolvimento infantil, devendo ser seguido desde o nascimento. Ainda assim, de acordo com o MS, a meta de cobertura de 90% só foi atingida para a imunização contra a tuberculose (com aplicação da vacina BCG, ainda na maternidade). No caso da poliomielite, que causa paralisia infantil, menos de 50% das crianças estão protegidas.
Dr. Alessandro observa que, no continente europeu, a falha na cobertura vacinal tem levado diversos países (como Itália, França e Grécia) ao enfrentamento da proliferação de sarampo em adultos e crianças, após uma década de queda nas taxas de contágio pela doença. Em contrapartida, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem pedido para todos os países adotarem medidas, para conter o avanço do problema, como evitar o abandono do cronograma de imunização. “Seguir o calendário vacinal promove a proteção esperada e ajuda a diminuir os vírus circulantes na população. Nesse sentido, quem está vacinado contribui, indiretamente, para quem não se vacinou”, destaca o infectologista.
O calendário brasileiro de vacinação abrange crianças, adolescentes, adultos, idosos, gestantes e povos indígenas, contemplando 19 tipos de vacinas para a prevenção de mais de 20 doenças. A proteção inicia ainda nos recém-nascidos, mas pode se estender por toda a vida. Algumas vacinas precisam de mais de uma dose ou de reforço após alguns anos, para promover a imunização plena. Por isso, é importante guardar o comprovante para o controle futuro, evitando a aplicação de doses desnecessárias. “Quem não se vacinou nas campanhas pode buscar um posto de saúde pública para a vacinação gratuita”, convoca o médico.
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