País em franco processo de envelhecimento populacional, o Brasil deve experimentar um fato inédito em sua história: nas próximas quatro décadas, o percentual de idosos, pessoas acima dos 60 anos, será maior que o de jovens com até 20 anos de idade. Esta projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traz à tona um questionamento crucial: será que estamos preparados para envelhecer? Diante desta questão e da perspectiva de nos tornarmos uma sociedade predominantemente idosa, a médica geriatra do Hospital Português e especialista pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Dra. Kátia Guimarães, fala sobre os desafios do envelhecimento e as atitudes que ajudam a elevar a qualidade de vida nessa fase da vida. Confira a entrevista!
1. Qual o perfil atual do idoso brasileiro?
Hoje, o Brasil tem dois grupos distintos de idosos: aqueles na faixa etária de 60-79 anos e os maiores de 80 anos. É um público que apresenta necessidades específicas, relacionadas à prevenção de doenças, alimentação adequada, atividade física, vivência cultural, espiritual e social. À medida que se envelhece, o bem-estar passa a ser fortemente determinado por esses fatores e pela habilidade do indivíduo manter-se autônomo e independente.
2. Como a autonomia e independência interferem na saúde do idoso?
Esses dois aspectos são essenciais ao bem-estar, em qualquer idade. Para o idoso, sobretudo, poder ir e vir, tomar suas próprias decisões, isto é, ser independente e autônomo, pode prevenir complicações incidentes nesta fase da vida, como a depressão, o isolamento social, o sentimento de menos-valia, a imobilidade e todas as suas consequências. O idoso ativo (física e intelectualmente), que mantém objetivos diários, se sente útil e valorizado, por familiares, acompanhantes, cuidadores e socialmente, alcançando a tão desejada qualidade de vida.
3. Nossa sociedade caminha para ser predominantemente idosa. Como devemos nos preparar para esse momento?
É preciso se planejar para a velhice, de forma proativa, ou seja, buscando informações e esclarecimentos acerca dos direitos pessoais adquiridos com o passar dos anos e que são assegurados pelo Estatuto do Idoso, por Políticas de Saúde para o envelhecimento, programas de auxílio ao idoso, aposentadoria, dentre outras conquistas. Esse conhecimento é essencial, em todos os sentidos, pois ajuda a quebrar preconceitos, a mostrar que o envelhecimento é um evento natural e a estimular uma experiência mais positiva desse processo contínuo da vida. Com informação, é possível, também, desenvolver atitudes e práticas saudáveis, em todas as idades. Isso ajuda a prevenir ou atenuar os problemas mais comuns da terceira idade, relacionados à saúde física e mental, às questões sociais e financeiras.
4. Como o geriatra e a família podem contribuir para a saúde do idoso?
O geriatra assume, hoje, o papel de médico de família: acompanha e trata o idoso, orienta sobre sua segurança no lar, corrige comportamentos inadequados (como a infantilização do idoso pela família), incentiva práticas salutares (como grupos de convivência e exercícios cognitivos), previne e trata doenças já instaladas, solicita exames periódicos, ao menos uma vez por ano. Já a família tem o papel relevante de estimular o idoso a olhar para o futuro, ter projetos (mesmo que pequenos e de curto prazo), interagir socialmente em atividades culturais, cultivar a espiritualidade, bem como, de respeitar a prática religiosa, opiniões e desejos dos mais velhos. O conhecimento, a sabedoria, privacidade e autonomia do idoso precisam ser igualmente valorizados. Ao ser paciente, humana, generosa e grata, não expondo as dependências e fragilidades do idoso, a família melhora o bem-estar e convívio entre as diferentes gerações.
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