Juntamente com a conquista de maior independência e consequente ocupação de novos espaços sociais, a mulher passou a desempenhar papeis diversos em sua vida pessoal e profissional – por vezes, de modo simultâneo. Essa atuação polivalente, típica do estilo de vida atual, para muitas mulheres, repercute em desgaste emocional e sobrecarga mental. Nesse contexto, a psicóloga da Unidade Coronariana (UCO) do Hospital Português, Renata Correia, observa algumas formas possíveis de a mulher lidar com as próprias emoções, diante dos apelos externos e pessoais, a fim de preservar o bem-estar e a qualidade de vida. Confira a entrevista!
1. Desempenhar múltiplos papeis e enfrentar pressões diárias é uma rotina para muitas mulheres. Como lidar com essa realidade sem afetar o equilíbrio mental?
Ao ser convocada de várias maneiras – do ponto de vista social e profissional; no lugar que ocupa na família, como mãe, na formação dos filhos; como mulher, na relação com o outro; na representação do feminino, na sociedade – a mulher precisa desenvolver o cuidado de si, de forma paralela. Olhar para si mesma vai ajudá-la a discernir como vivenciar cada papel, da melhor forma, no momento em que for convocada, de acordo com o cenário, o contexto, para evitar uma mistura de funções ou sobrecarga. Muitas vezes, há uma pressão social para se ultrapassar limites, como se fosse mais vitorioso, dar conta de tudo sozinha. É importante se permitir contar com o outro, reconhecer os próprios limites, para não ir além e trazer prejuízos à sua saúde mental.
2. Saber lidar com as próprias emoções é o caminho para preservar o bem-estar?
É essencial conhecer as próprias emoções, sentimentos e pensamentos. É essencial conhecer o que se deseja e gosta de fazer, saber como se sente diante das situações. É, igualmente, importante se autorizar a experimentar as emoções para ajusta-las a cada vivência. Os sentimentos são em respostas às situações e experiências da vida; conhecê-los e expressá-los, de forma compatível aos acontecimentos, ajuda a desenvolver o autocontrole emocional. É preciso observar se as repercussões emocionais (e o contexto em que aparecem) são compatíveis ou desproporcionais. A mulher que está atenta questiona se as próprias emoções são vivenciadas de forma saudável ou se são patológicas, e podem gerar prejuízos à sua saúde e relações.
3. Em que momento é preciso buscar ajuda profissional?
A vida é dinâmica. Há momentos de maior ou menor demanda. Quando pensamentos, sentimentos e emoções trazem prejuízos, perdas e disfuncionalidades à dinâmica de vida, à saúde e ao bem-estar, é importante buscar ajuda de um especialista em saúde mental. Sinais patológicos, que preocupam ou se manifestam de formas diversas (insônia, ansiedade, dores inespecíficas ou generalizadas) merecem atenção profissional. A mulher deve avaliar se suas respostas emocionais sofrem influência de outra ordem (física, hormonal, dentre outras) para investigar. A mulher também deve buscar atendimento psicológico se tiver uma queixa, desejo, demanda de se conhecer melhor, de aprender a lidar com as próprias emoções e o desempenho de diferentes papéis.
4. Qual a importância de cuidar da saúde mental?
Cuidar da saúde mental é necessário. Em nossa cultura, o cuidado da saúde da mulher está sempre voltado à questão física, ao check-up clínico. Mas precisamos incluir, nesse repertório, a atenção com a saúde mental, afinal corpo e mente não se separam. As manifestações acontecem de modo conjunto na vida, sendo importante que a saúde mental seja, igualmente, priorizada. A mulher deve saber que pode buscar ajuda e orientação profissional quando necessário.
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