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Novas terapias para diabetes associado à doença cardiovascular

5 de novembro de 2019

*Artigo produzido por Dra. Maria Creusa Rolim, líder do Serviço de Endocrinologia do Hospital Português.

A incidência e prevalência globais de diabetes mellitus tipo 2 quadruplicaram, desde a década de 1980 e, ainda, seguem em ritmo crescente. Nesses pacientes, os problemas cardiovasculares – insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana e acidente vascular cerebral (AVC) – lideram as causas de incapacitação física e mortalidade. Mesmo com aprimoramento da terapia baseada em evidências e consequente maior sobrevida, o diabetes tipo 2, quando associado à insuficiência cardíaca avançada, tem taxa de mortalidade de aproximadamente 50%, em 5 anos. Em alguns países, esse índice ultrapassa o total de mortes por infarto do miocárdio.

Em 2008, a publicação de um estudo gerou forte impacto sobre controle de glicemias e redução do risco cardiovascular. Foi observado que não basta controlar a glicemia no diabetes para se viver melhor. É preciso mais! Essa constatação desencadeou grande mudança de paradigma: além do controle da glicose, é necessária uma estratégia mais abrangente de redução do risco cardiovascular.

As agências reguladoras pressionam, desde então, para que os agentes anti-hiperglicêmicos demonstrem segurança e benefícios cardiovasculares aos portadores de diabetes tipo 2 – especialmente, no combate à mortalidade por doença cardiovascular, insuficiência cardíaca e infarto do miocárdio não fatal. Novas drogas desenvolvidas vêm promovendo, também, maior eficiência no controle da glicemia e segurança do ponto de vista cardiovascular (com possibilidade de efeito protetor adicional na morbimortalidade por cardiopatias).  A primeira publicação nesse sentido veio em 2013 e destaca efeitos de uma droga na proteção cardiovascular do paciente com diabetes, dando a largada oficial para novos medicamentos.

Hoje, a meta de prolongar e melhorar a vida no diabetes é perseguida por outra classe de drogas modernas e já aprovadas: os análogos do receptor de GLP1, os inibidores de DPP4 e os inibidores de SGLT2. Destas, boa parte tenta provar a menor mortalidade por complicações do diabetes; reduzir e/ou evitar o ganho de peso nesses pacientes (algo muito positivo, já que o sobrepeso é comum); diminuir os valores glicêmicos, reduzir lipídeos (colesterol e triglicerídeos); ou melhorar a função renal (outro aspecto maravilhoso, pois, o diabetes afeta o rim e pode gerar insuficiência renal).

Estes estudos sérios, publicados em revistas de alto impacto científico, com critérios rígidos de qualidade, trazem um novo olhar para o diabetes e seus portadores. Mesmo assim, classes antigas de drogas para esta condição permanecem insuperáveis. A metformina é o exemplo principal, sendo, ainda, padrão ouro no tratamento: barata, efetiva em reduzir glicemias e, cada vez mais, se mostra segura e benéfica contra riscos renais e cardiovasculares. Isto nos lembra que nem sempre a novidade é melhor. Mas, seguimos atentos aos avanços da ciência e aos novos conhecimentos para evoluir constantemente na prática médica.