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Autocuidado materno

10 de março de 2020

A experiência de tornar-se mãe envolve um caminho complexo

e cheio de particularidades. Expectativas cultivadas antes mesmo da gravidez e outros tantos anseios que se intensificam durante a gestação e após a chegada do recém-nascido, fazem a mulher imergir quase que totalmente no universo maternal. Nesse contexto de entrega intensa, as relações sociais, atividades profissionais e até os meros momentos de pausa para um pequeno lazer – praticar atividade física, uma leitura, um encontro entre amigos ou com o par – ficam comprometidos. Resgatar o cuidado de si, depois de ser mãe é algo tangível e, sobretudo, necessário ao equilíbrio físico e psicoemocional feminino, conforme destaca a psicóloga do Hospital Português (HP), Elisa Teixeira.

“É fato que a gravidez e o puerpério fazem exigências físicas e mentais à mulher. Depois de vivenciar os processos de desejar, planejar, tentar, engravidar, parir e maternar é natural, e também necessário, que a atenção feminina se volte para o novo ser em desenvolvimento, especialmente, durante a gravidez, o aleitamento e os primeiros anos de vida do bebê. Ao priorizar questões práticas da maternidade, muitas vezes, o autocuidado feminino é afetado e relegado em segundo plano”, observa Elisa. Contudo, se existe o desejo legítimo de conciliar outras funções com a maternidade, a terapeuta orienta buscar estratégias. “Respeitando o tempo de cada mulher no puerpério, entende-se que depois de três ou quatro meses, se ela sente dificuldade para retomar atividades habituais ou prejuízos em não encontrar espaço para exercer outros papeis que considera relevantes, é interessante buscar ajuda”, orienta.

Dispor de uma rede de apoio (formada por membros da família, amigos ou pessoas próximas, que possam compartilhar as tarefas de cuidado diário do bebê) é uma das possibilidades de atenuar a carga de responsabilidades materna. Outro recurso é o atendimento psicológico perinatal, realizado em âmbito clínico, nos consultórios e em interface com o hospital, através de escutas de psicólogos nas maternidades. A terapeuta explica que a Psicologia Perinatal é a especialidade especificamente voltada ao cuidado da mulher, do casal e da família no contexto perinatal – um período que compreende vivências específicas, relacionadas à chegada do recém-nascido e às novas situações que surgem, sobretudo, para os pais de primeira viagem.

“A maternidade integra experiências somáticas e afetivas particulares, sem receita milagrosa ou bula para o cuidado do bebê. Por isso, o período perinatal produz mudanças que sugerem crises e alterações psicológicas muito específicas. Nesse contexto, os aspectos mental e emocional femininos não podem ser negligenciados”, ressalta Elisa, informando que é comum observar alterações no psiquismo provocadas pelo puerpério – instabilidade, insegurança, processos de tristeza, choro fácil, leve rebaixamento do humor, entre outras. “Alguns sintomas são leves e transitórios no baby blues (estado deprimido), no entanto caso seja observada uma tristeza profunda, medo e persistência da sintomatologia é necessário buscar um profissional para afastar a possibilidade de depressão pós-parto”, alerta.

O melhor enfrentamento de dificuldades e transformações do período perinatal pode ser considerado ainda na gestação, através do pré-natal psicológico. Este suporte envolve escuta e apoio terapêutico especializado, orientação para a família e intervenções precoces voltadas à saúde psíquica e emocional materna com consequente bem-estar para toda a família. “Hoje, a mulher dispõe de bastante informação acessível, diversos profissionais e especialidades para auxiliá-la na gestação e no pós-parto. Essa assistência é fundamental para lidar com a maternidade, construindo recursos suficientes para manter a ansiedade sob controle e maior confiança no cuidado do recém-nascido e de si própria. Com uma rede de suporte familiar e o apoio profissional especializado, a mulher pode cuidar do seu bebê, sem comprometer o bem-estar pessoal”, finaliza.