Palavra da especialista: Dra. Jesângeli Dias é neurologista do Serviço de Neurologia do HP.
Descrita há mais de dois séculos, a doença de Parkinson ainda não possui cura e a sua origem permanece desconhecida. A patologia afeta o sistema nervoso central, mais especificamente o sistema motor, e resulta da perda de neurônios produtores de dopamina, uma substância essencial para a atividade normal do cérebro. Pessoas acima de 60 anos são mais afetadas pelo problema, que é caracterizado por lentificação dos movimentos, rigidez muscular, tremor de repouso e instabilidade postural; mas, os mais jovens podem ser também atingidos. Especialista do Serviço de Neurologia do Hospital Português (HP), Dra. Jesângeli Dias fala sobre esta doença degenerativa, com curso crônico e progressivo, que demonstra vínculos com fatores ambientais, genéticos e o processo natural de envelhecimento. Confira a entrevista!
1. Existem meios de prevenir ou retardar as chances de surgimento do Parkinson?
Não existem medidas protetoras comprovadamente eficazes. Contudo, estudos indicam que a atividade física regular pode ser benéfica. Naqueles pacientes que já apresentam a doença, a atividade física tem um efeito positivo em manter a qualidade de vida e prevenir quedas. Questiona-se também sobre o possível papel benéfico do uso de probióticos, os quais ajudariam a regular a microbiota intestinal. Algumas teorias atribuem o surgimento da doença a alterações da microbiota normal do intestino.
2. Quais fatores ambientais favorecem esta doença?
Uma das teorias para explicar a doença é que ela seja multifatorial e resulte da interação entre idade, predisposição genética e fatores ambientais. Estudos epidemiológicos sugerem que a exposição ambiental a algumas substâncias químicas (pesticidas, ferro, manganês e solventes) pode desencadear mecanismos que levam à morte do neurônio. Contudo, o papel exato da influência destes fatores no surgimento do Parkinson ainda não é completamente definido. O trauma craniano é um outro aspecto ambiental descrito como fator de risco para esta doença.
3. Se o meu pai ou a minha mãe tem doença de Parkinson eu também posso ter a doença. Qual o papel da hereditariedade?
Apenas 5% a 10% dos pacientes apresentam forma familiar da doença. Vários genes já foram identificados em várias famílias ao redor do mundo. Contudo, a maioria dos pacientes não tem qualquer fator genético identificável, apresentando, portanto, a forma idiopática da doença. Parentes de primeiro grau destes pacientes, em relação a população geral, tem uma chance um pouco maior (cerca de duas vezes e meia) de apresentar esta condição no futuro, mas não significa que necessariamente irão desenvolvê-la.
4. Como é feito o tratamento dos portadores da doença de Parkinson, hoje?
O tratamento consiste em medidas não medicamentosa, como recomendação de atividade física, fisioterapia e participação do fonoaudiólogo para melhorar a qualidade da fala e da deglutição. A terapia ocupacional é indicada e ajuda na elaboração de estratégias para manter este individuo independente. As medicações se dividem entre aquelas utilizadas para tratar os sintomas motores da doença (como tremor e lentidão dos movimentos) e outras usadas para tratar sintomas como depressão, ansiedade, transtorno comportamental do sono REM e salivação excessiva, que também fazem parte das manifestações clínicas. A cirurgia poderá ser indicada em casos selecionados. O implante de eletrodos para estimulação cerebral profunda tem sido a opção cirúrgica preferida na atualidade.
5. Como a família pode contribuir com a qualidade de vida do portador do problema?
A família tem um papel importante, fornecendo apoio e funcionando como um agente promotor de inclusão social. O diagnóstico para muitos é impactante, afetando a autoestima. Alguns chegam a esconder o diagnóstico de familiares e pessoas próximas. Outros se tornam reclusos, pois se sentem constrangidos em público porque o tremor atrai o olhar das pessoas ou porque não conseguem ser ouvidos. A fala de difícil compreensão, lenta e de baixo volume faz com que muita gente não tenha paciência durante uma conversa e complete as frases que eles querem dizer. Pelos seus sintomas, muitos se queixam de serem vistos como incapazes, inclusive de tomar decisões próprias quando seu cognitivo ainda está bem. A família pode ajudar bastante a superar estas dificuldades e na aceitação do problema.
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