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Saúde mental em meio à pandemia

19 de outubro de 2020

*Entrevista com Dr. Gabriel Câmara, psiquiatra do Hospital Português (HP).

Saúde mental em meio à pandemia

A procura por atendimentos psiquiátricos no país durante a pandemia de Covid-19 cresceu 25%, em relação ao período anterior. O dado da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) sugere o desencadeamento ou agravamento de problemas psicoemocionais na população, em razão do contexto pandêmico. Em 10 de outubro, o Dia Mundial da Saúde Mental chama atenção justamente para a importância de diagnosticar e tratar doenças que afetam o bem-estar psíquico e a qualidade de vida, buscando uma integração entre a saúde física e mental. Nesta entrevista, o psiquiatra do Hospital Português (HP), Dr. Gabriel Câmara, faz esclarecimentos sobre o tema e destaca a relevância do cuidado especializado em saúde mental dentro da atenção multidisciplinar à saúde. Confira!

1) A pandemia potencializou o surgimento ou agravamento de transtornos mentais em parte da população?

Sim. Houve aumento do risco de doença psiquiátrica e do quadro psicopatológico em pessoas que já apresentavam diagnóstico psiquiátrico. A realidade da maioria das pessoas foi alterada de forma brusca e radical com a pandemia e as consequentes medidas de saúde pública para conter o vírus. Como corolário, restrições à liberdade individual, isolamento social, perdas financeiras e de outras ordens contribuíram para elevar o sofrimento emocional das pessoas. Também, o medo de contrair a doença, a ameaça constante, a perda de entes queridos, a falta de esperança e de um prognóstico preciso do que poderá ocorrer doravante, tornaram-se fatores desencadeadores de adoecimento psíquico nas pessoas mais propensas.

2) Este cenário traz repercussões futuras?

Sim. No nível populacional, sabemos que a saúde mental foi afetada pela pandemia e que os efeitos provavelmente serão duradouros. Mais do que nunca é preciso cuidar da saúde mental. O lado positivo dessa história é a importância evidente de se integrar o cuidado com a saúde mental ao cuidado geral da saúde.

3) Quais grupos têm risco maior para o adoecimento psíquico?

Alguns grupos podem ser mais vulneráveis que outros aos efeitos psicológicos desencadeados pela pandemia – aqueles que contraíram a infecção, com risco de adoecimento mais grave (idosos, pessoas com a imunidade comprometida ou doenças crônicas), com diagnóstico psiquiátrico prévio, que usam substâncias psicoativas, além de crianças e adolescentes. Profissionais de saúde também estão bastante expostos ao sofrimento psíquico na pandemia.

4) Quais os sintomas mais frequentes e quando indicam a necessidade de procurar tratamento especializado?

Sintomas depressivos e ansiosos são os mais frequentes e podem representar reações comuns no contexto de diagnóstico de alguma doença. Preocupações psicossomáticas, insônia e uso de álcool também aumentaram significativamente. Deve-se considerar a procura por atendimento especializado, para uma avaliação psiquiátrica adequada, quando os sintomas persistirem e se tornarem recorrentes, causando sofrimento emocional importante e comprometimento da rotina.

5) No âmbito da saúde mental, quais ações são desenvolvidas no HP?

O HP se destaca na saúde baiana, no que tange a saúde mental, com uma equipe preparada e completa (médico psiquiatra, psicólogos e assistentes sociais) para atender os pacientes internados com os mais diversos diagnósticos: desde condições clínicas mais indolentes até situações críticas de internação nas unidades fechadas. Pacientes com indicação para acompanhamento especializado em saúde mental recebem assistência contínua ao longo do internamento, dispondo de tratamento integral e humanizado na hospitalização. O HP conta também com protocolo de prevenção do suicídio, fundamental à segurança dos pacientes.

6) Qual a relevância desse trabalho, em especial para o paciente e sua família?

Considero ser essencial. A inserção da psiquiatria nos hospitais gerais, como o HP,  vem expandindo significativamente na maioria dos países, sobretudo nos EUA e países da Europa. O HP segue a tendência da medicina hospitalar do futuro, tecnológica e de alta complexidade, integrando o trabalho do médico psiquiatra com os demais especialistas do corpo clínico na investigação e no tratamento dos pacientes. Claramente, a psiquiatria hospitalar moderna visa à melhoria do cuidado na internação, tratando doenças psiquiátricas comórbidas e expandindo a perspectiva do cuidado clínico do campo biomédico para o biopsicossocial. A especialidade tem o potencial de reduzir o sofrimento dos pacientes, como também, de melhorar seus resultados médicos, diminuindo o tempo de internação e otimizando a eficiência dos recursos médicos. O tratamento integral, contemplando a saúde mental do paciente, aprimora a qualidade do serviço ofertado, a experiência de hospitalização e o grau de satisfação de pacientes e familiares.