Avanços na terapia endovascular de aneurismas cerebrais
17 de dezembro de 2020
Em aperfeiçoamento contínuo, tratamento menos invasivo amplia chances de reabilitação plena do paciente
O desaparecimento prematuro do ator Tom Veiga, interprete do personagem Louro José, chamou a atenção do país para um dos tipos de acidente vascular cerebral (AVC) menos frequentes na população, mas que pode ser fatal em até 40% dos casos. O AVC que vitimou o ator foi causado pelo rompimento de um aneurisma cerebral – dilatação que se forma na parede das artérias do cérebro, como explica o neurologista e especialista do Serviço de Neurorradiologia Intervencionista do Hospital Português (HP), Dr. Eduardo Mello. “A ruptura do aneurisma cerebral é uma das causas de AVC hemorrágico, também chamada de hemorragia subaracnóidea. Como o risco de morte é iminente, a rapidez no socorro amplia bastante as chances de tratamento. Com o avanços contínuos das terapias endovasculares, hoje, é possível tratar o problema de forma muito menos invasiva e mais efetiva”, destaca o especialista.
Diagnóstico e planejamento terapêutico
Situações de gravidade extrema podem ser evitadas com o diagnóstico prévio do aneurisma, por meio dos exames de Angiotomografia ou Angioressonância dos Vasos Cerebrais, seguido do tratamento planejado da doença. A decisão pela terapia mais adequada depende ainda da realização do exame de Angiografia Cerebral, fundamental para definir a melhor estratégia de tratamento. “Trabalhos científicos demonstram que os melhores resultados ocorrem em serviços hospitalares onde há um grupo Neurovascular com perfeita interação entre equipes experientes de Neurorradiologia e Neurocirurgia para as tomadas de decisão, como ocorre no Hospital Português”, destaca o especialista.
Terapia por Embolização x Cirurgia convencional
Até a década de 1990, a cirurgia com abertura craniana era a única forma possível de tratar os aneurismas. Logo nos anos seguintes, esse método invasivo e altamente delicado passou a ceder espaço para uma técnica nova de tratamento endovascular dos aneurismas cerebrais, a embolização. A abordagem inovadora, menos invasiva e mais segura, desde então, vem se firmando como técnica preferencial no tratamento dos aneurismas cerebrais. A maior vantagem da embolização, em relação à cirurgia aberta é ser um tratamento menos invasivo, que permite acessar o aneurisma pelo interior das artérias, sem a necessidade de abertura do crânio. “Nesse método, colocamos pequenas espirais de platina (fios delicados de metal bem flexíveis) no interior do saco aneurismático, para obstruir o fluxo de sangue no seu interior. É um procedimento minimamente invasivo que usa os caminhos naturais das artérias do organismo para acessar o aneurisma, diminuindo muito o risco de dano durante o tratamento”, explica Dr. Eduardo.
Desde quando a embolização surgiu no mundo, o procedimento já demonstrava resultados superiores aos obtidos com a cirurgia convencional, nos casos de aneurismas que se romperam e causaram hemorragia cerebral. Evidências científicas sobre o método foram demonstradas por estudos realizados em diversos países europeus e nos Estados Unidos, como o ISAT – ensaio internacional de aneurisma subaracnóide – publicado em 1994, que comparou os resultados de tratamento por cirurgia convencional e por embolização de aneurismas cerebrais que romperam. De acordo com esse trabalho, a embolização gerou redução absoluta de 8,6%, e relativa de 26,8%, do risco de sequela ou morte em relação aos casos tratados cirurgicamente. “Esse estudo nos mostra que num contexto de hemorragia cerebral por ruptura de aneurisma, onde o paciente naturalmente tem maior gravidade e risco de vida, a técnica endovascular, por ser minimamente invasiva, acrescenta um risco menor ao tratamento”, esclarece o especialista.
Nos casos selecionados em que a embolização não se aplica, a técnica cirúrgica convencional é a terapia recomendada. “Essa escolha depende de uma avaliação criteriosa da localização do aneurisma, de suas dimensões, formato, da relação com as artérias normais da região onde se origina, idade e estado clínico do paciente, e experiência das equipes de Neurorradiologia e Neurocirurgia envolvidas no caso”, observa Dr. Eduardo.
Tratamento em evolução constante
Com três décadas de prática, a terapia endovascular de aneurismas cerebrais segue evoluindo a cada ano, oportunizando maior expertise às equipes intervencionistas, além do uso de insumos cada vez mais modernos no procedimento. Tamanho progresso tem levado ao êxito frequente nas situações de embolização dos aneurismas cerebrais. Os procedimentos atuais utilizam não somente espirais de platina, de diversas formas e dimensões, como também, stents intracranianos – pequenos dispositivos cilíndricos de malha metálica – que são implantados no interior das artérias cerebrais com uso de pequenos cateteres e servem, principalmente, para reforçar e corrigir a fragilidade da parede arterial que originou a dilatação, possibilitando tratar a causa do problema. “Existem ainda dispositivos mais novos, implantados diretamente no interior da dilatação arterial, no lugar das espirais de platina, a exemplo do Web, espécie de pequena cesta metálica que é colocada no interior do saco aneurismático, o preenchendo por completo e ocasionando a obstrução”, informa o médico.
Os materiais de acesso também evoluíram muito, nas últimas décadas. Hoje, o neurorradiologista utiliza cateteres mais flexíveis, microcateteres e stents mais delicados, que podem ser implantados em artérias tão finas quanto dois milímetros de diâmetro. “Esses avanços possibilitaram um aumento impressionante nas possibilidades de tratar aneurismas cerebrais por via endovascular, inclusive nos casos até então considerados de difícil terapia ou mesmo intratáveis, por embolização ou cirurgia convencional. Tamanha evolução ampliou enormemente a segurança do tratamento, proporcionando agora um risco menor de sequelas e a recuperação muito rápida do paciente no pós-operatório”, finaliza o especialista.
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