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Imunizantes contra a Covid-19

18 de janeiro de 2021

O desenvolvimento simultâneo de diferentes vacinas contra o novo coronavírus e o início das primeiras imunizações no mundo acendeu a expectativa global pela vacinação. A espera das populações tem sido acompanhada de avidez por informação sobre os níveis de eficácia dos imunizantes, a duração da proteção oferecida contra a Covid-19, os riscos de eventuais reações adversas, entre outras dúvidas comuns. Nesta entrevista, a supervisora assistente do Serviço de Farmácia do Hospital Português, Valnélia Fraga, ajuda a esclarecer o assunto. Confira, a seguir!

Como é atestada a segurança e eficácia das vacinas produzidas pelos laboratórios farmacêuticos?  

O desenvolvimento de vacinas, assim como demais medicamentos, passa por diferentes fases de estudo antes da aprovação para uso na população. Essas etapas visam garantir a segurança e capacidade de proteção (eficácia) do imunizante contra a doença, além de definir quais grupos populacionais podem receber a vacina, o número de doses necessárias para a imunização e intervalo entre cada dose. Respeitar esse processo, aguardando os resultados consolidados dos experimentos e as revisões posteriores, garante a segurança do imunizante.

Hoje, quantas vacinas contra a Covid-19 seguem em análise?

Segundo a OMS, atualmente existem 52 vacinas candidatas em avaliação clínica à imunização contra o novo coronavírus, e outras 162 em avaliação pré-clínica. Hoje, cinco tipos principais de vacinas estão sendo avaliadas clinicamente e concentram os esforços da comunidade científica mundial. Todas elas estão sendo projetadas para ensinar o sistema imunológico humano a reconhecer e bloquear com segurança o vírus que causa Covid-19 e as notícias são promissoras.

Qual é o mecanismo de ação dos principais imunizantes testados?

A vacina da Universidade de Oxford (produzida pela farmacêutica AstraZeneca) e a vacina do laboratório Sinovac (produzida em parceria com Instituto Butantan) possuem modelos de mecanismos de ação diferentes. A de Oxford utiliza um vetor viral (vírus geneticamente modificado que não causa doença, mas produz resposta imunológica com segurança). A vantagem desse modelo é a adaptação rápida caso surja uma mutação do novo coronavírus ou um novo agente viral. A vacina da Sinovac usa tecnologia de vírus inativado ou enfraquecido, cujo modo de ação não causa doença, mas gera resposta imune. Técnica idêntica é empregada pelo imunizante do laboratório Sinopharm. As farmacêuticas Pfizer e Moderna trazem uma inovação: imunizantes produzidos a partir do RNA geneticamente modificado do vírus, com promessa de resposta imunológica segura. Não há registros no mundo de outras vacinas com este método.

Como foi possível desenvolver tantos imunizantes em tão pouco tempo?

Uma vacina leva em torno de 10 anos para ser desenvolvida, devido ao cumprimento de todas as fases (1, 2, 3 e 4) de estudo. A descoberta da sequência genética do novo coronavírus em um intervalo de 30 dias, após sua identificação, foi determinante para acelerar a pesquisa científica mundial sobre este assunto. Com a pandemia, a disponibilização de vacinas para a Covid-19 será em tempo recorde na história da humanidade.

Quais são os maiores entraves para distribuir desses imunizantes?

Alguns fatores dificultam essa meta: limitações dos estudos em grupos de pessoas, dificuldades socioeconômicas de acesso para todos, logística de distribuição em locais mais remotos, armazenamento adequado, temperatura de conservação, entre outros. Além disso, os estudos devem esclarecer ainda o tempo de proteção dos imunizantes, se será preciso doses de reforço, se o vírus é estável ou sofre mutação, a abrangência de cobertura e eficiência, entre outras questões.

Qual o papel da farmacovigilância nesse processo?

A farmacovigilância corresponde a fase 4, quando o imunizante já está disponível para a população. Um dos objetivos dessa etapa é conferir quanto tempo a imunidade produzida permanece e se há reações raras que não foram observadas nos testes clínicos de fase 3. Neste processo as empresas assumem compromisso com a agência reguladora de monitorar eventuais reações adversas mais raras, assim como, as unidades de saúde quanto à aquisição e dispensação.

Os atuais protocolos de segurança e higiene devem permanecer após a imunização das populações?  

A pandemia proporcionou um importante legado cultural e educativo, disseminando informações sobre microorganismos e medidas de higiene para combatê-los. Adotar barreiras de proteção física, como o uso de máscaras, e reforçar medidas higiênicas ambientais e das mãos são práticas que sinalizam respeito e cuidado pessoal e coletivo. Manter essas medidas ajuda no enfrentamento ao coronavírus e evita outras infecções.