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Sono ruim, verão e vitamina D

10 de fevereiro de 2021

Dr. Francisco Hora é médico especialista em medicina do sono, com doutorado pela UNIFESP, e coordenador do Laboratório do Sono do Hospital Português (HP).

A má qualidade do sono é uma queixa comum entre pessoas das diversas gerações. E no verão, o clima quente passa a ser mais um vilão do sono, compondo a lista de quem relata dificuldade para adormecer, quase que diariamente. Alguns chegam a passar horas em vigília, na cama. Outros apontam o repouso leve e intermitente ao longo da noite como maior causador de cansaço, irritabilidade, falta de concentração, entre demais sintomas característicos de uma noite mal dormida. Há também quem sofra com ronco e insônia frequentes. E, nos dias de alta temperatura, todas essas queixas pioram, especialmente, se o quarto de dormir for inadequado ao relaxamento e propício ao calor, à transpiração excessiva, pouca ventilação e luminosidade artificial intensa.

É importante dizer que além dos fatores ambientais, a latência do sono (tempo que uma pessoa leva para dormir após ir para a cama) sofre a influência de inúmeros agentes orgânicos, como as taxas de nutrientes presentes no corpo. A vitamina D é um exemplo. Muita gente desconhece essa relação da “vitamina do sol” com o sono, mas evidências científicas apontam que o déficit desse nutriente é capaz de alterar a liberação de hormônios como a melatonina, atuante no ciclo sono-vigília. A vitamina D é produzida com a exposição ao sol e encontrada em alguns alimentos. Em níveis adequados, beneficia as funções orgânicas essenciais, como a regulação do sono. Já a sua deficiência está associada à dificuldade para adormecer, ao repouso curto e interrompido, entre outros prejuízos.

A exposição diária ao sol, por cerca de quinze minutos em horários apropriados, é suficiente para sanar a deficiência de vitamina D. Já a eliminação da dificuldade para dormir não é tão simples assim. De característica complexa, os distúrbios do sono exigem investigação minuciosa e especializada, através da Polissonografia. O exame é altamente preciso e muito simples, realizado à noite com todo o conforto para o paciente, no Laboratório do Sono do Hospital Português. O diagnóstico é feito através de avaliação acurada das múltiplas variáveis eletrofisiológicas do sono. A partir daí, o especialista estabelece o tratamento individualizado capaz de resgatar uma rotina de descanso reparador.

Somente no Brasil, mais de 73 milhões de pessoas convivem com a insônia, segundo a Associação Brasileira do Sono (ABS). A origem desse e de outros distúrbios do sono pode ter ligação com condições de fundo psíquico e emocional (como estresse e ansiedade), ou ainda, fatores orgânicos, como obesidade. Ao mesmo tempo, um padrão de sono ruim potencializa o surgimento de mais de 70 tipos de doenças, do diabetes ao Alzheimer. Isso nos dá a clareza de que sono fragmentado e insuficiente é incompatível com saúde e bem-estar. Logo, toda dificuldade para dormir merece ser diagnosticada e tratada. Afinal, quem não quer desfrutar do benefício de dormir bem em qualquer estação?