Saúde vocal

Palavra do especialista

Instrumento de comunicação e expressão pessoal, a voz também revela indícios de como anda a nossa saúde. A chamada disfonia (disfunção que afeta a vibração das cordas vocais, sinônimo de rouquidão) é um sinal de que algo está errado. Atentar para o surgimento desse sintoma e buscar ajuda médica especializada para investigar as razões de origem, especialmente se o problema for recorrente ou de longa duração, é fundamental para prevenir o agravamento do quadro clínico, como orienta o coordenador do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Português (HP), Dr. Miguel Leal Andrade Neto. O otorrinolaringologista ressalta que a melhor forma de evitar problemas vocais é cultivando uma rotina de cuidados preventivos no dia a dia. Nesta entrevista, ele cita as principais atitudes benéficas para a voz. Confira a seguir!

1) O que é possível fazer para preservar a saúde vocal, particularmente, para quem trabalha com a voz?

É importante evitar abusos (gritar, sussurrar, rir muito alto, falar em excesso), buscando manter o timbre e a intensidade natural da voz, porque os extremos causam um esforço fonatório prejudicial às cordas vocais, que pode gerar lesões, como os pólipos e os nódulos. Recomendo também descansar a voz com pausas em silêncio após cada hora de jornada, hidratar-se corretamente e dormir bem, pois o sono ajuda no processo de recuperação dos músculos das cordas vocais. Outro cuidado importante é respirar com consciência e corretamente pelo nariz, permitindo o adequado aquecimento e umidificação do ar que irá para os pulmões. A qualidade vocal é afetada ainda durante a permanência prolongada em locais muito secos, o que leva ao ressecamento da garganta. Assim, esses ambientes devem ser evitados, mas, caso não seja possível, a hidratação deve ser intensificada. Na medida em que se desenvolve maior consciência sobre tais situações, é possível fazer desses cuidados uma rotina em prol da saúde vocal.

2) A alimentação interfere também na saúde vocal?

Sim. Por isso é essencial fazer escolhas alimentares que promovam a saúde da voz. Esse cuidado visa principalmente prevenir episódios de refluxo gastro-esofágico, que podem levar a rouquidão. Recomendo evitar o consumo de alimentos ácidos e picantes, como frutas cítricas, molho de tomate, cebola, alho e pimenta; cafeína, laticínios, refrigerantes, bebida alcoólica, condimentos e frituras também não devem fazer parte do cardápio diário. É preciso priorizar alimentos leves e naturais, e frutas como a maçã, o melão e a melancia, ricos em água e grandes aliados da voz. Outro fator de extrema relevância na prevenção de problemas vocais é manter o consumo regular de água, ingerindo de 8 a 10 copos por dia, que, além de prevenir, ajuda a acelerar a recuperação de quadros de rouquidão.

3) Quais atitudes são mais prejudiciais para a voz?

Alguns comportamentos são reconhecidamente prejudiciais à saúde e devem ser evitados. É o caso do abuso no consumo de bebidas alcoólicas e o hábito de fumar. O tabagismo está relacionado ao desenvolvimento de diversas patologias e é o principal fator causal na gênese do câncer de laringe, principalmente quando associado ao alcoolismo. O câncer de laringe é uma doença potencialmente grave e incapacitante, que afeta principalmente as cordas vocais de indivíduos fumantes com idade superior a 40 anos e cujos principais sintomas são rouquidão, dor na garganta, distúrbios de deglutição, perda de peso e surgimento de linfonodos palpáveis no pescoço.

4) Quando o otorrinolaringologista deve ser procurado?

A ida ao otorrinolaringologista deve fazer parte do nosso check-up anual, mas existem situações que devem antecipar essa consulta. Uma rouquidão com mais de 10 dias de duração, por exemplo, é um sinal de alerta e demanda visita imediata ao otorrino. Doenças das vias aéreas superiores, que cursam com sintomas como obstrução nasal, alteração do olfato ou sangramento são outros exemplos de situações que devem ser avaliadas pelo especialista. Tontura, zumbido e perda de audição também estão na lista de sintomas que devem ser relatados ao otorrino. Com relação aos profissionais da voz, faz-se necessária uma visita semestral ao otorrinolaringologista bem como o acompanhamento fonoaudiológico frequente visando a manutenção da saúde vocal.

Dr. Miguel Leal Andrade Neto é coordenador do Serviço de Otorrinolaringologia do HP.