Escutar uma música, uma risada, o som das ondas ou mesmo o ruído do trânsito são percepções remotas e até desconhecidas para quem convive com a deficiência auditiva. Ouvir bem é condição essencial para a transmissão de conhecimentos e para o próprio desenvolvimento humano. Em cidades como Salvador – considerada em 2005 a capital mais barulhenta da América Latina pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – preservar a audição pode representar um desafio em meio à exposição permanente à poluição sonora, importante fator de risco para o problema. Em cada mil crianças nascidas no Brasil, estima-se que quatro apresentam perda auditiva. Há três anos, o número de brasileiros com alguma dificuldade para ouvir era superior a 7 milhões e meio segundo o censo do IBGE, com incidência proporcional entre homens e mulheres e alta prevalência na área urbana (6.316.136). Fatores ambientais presentes nas metrópoles, envelhecimento, doenças associadas, traumas, substâncias químicas, causas genéticas (congênitas ou não) são algumas razões do problema. O tratamento eficaz requer diagnóstico correto e, sobretudo, precoce. Hoje, a otologia, subespecialidade da otorrinolaringologia responsável pelo estudo da audição, oferece testes avançados para recém-nascidos, adultos e idosos, capazes de identificar perdas iniciais assintomáticas e conter ou minimizar efetivamente a deficiência.
Atuante no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Português, Dra. Loren Britto explica que dos pacientes que nascem com algum tipo de perda auditiva 30% apresentam causa desconhecida, 30% genética não sindrômica (não possuem outras doenças associadas), 3% genética sindrômica (perda aditiva acompanhada de outros sintomas), 4% meningite e 2% rubéola. A presbiacusia (perda auditiva relacionada à idade) acomete até 20% da população abaixo de 60 anos e 60% dos idosos. Para investigar as causas o otorrinolaringologista realiza o exame físico do ouvido, chamado de Otoscopia, que permite identificar alterações no conduto auditivo e na membrana timpânica, decorrentes de corpos estranhos, rolhas de cera, inflamações, tumores e perfurações. A partir dessa avaliação inicial o especialista define quais procedimentos avançados devem ser empregados para uma avaliação mais detalhada do aparelho auditivo. No Hospital Português profissionais experientes e altamente capacitados na especialidade contam com os mais modernos equipamentos disponíveis no mercado para o tratamento completo de qualquer tipo de surdez. “Essa estrutura é um diferencial importante na assistência ao paciente com dificuldade para ouvir, porque o tratamento é definido de acordo com cada problema apresentado e o uso de aparelhos ultramodernos amplia a precisão diagnóstica”, destaca.
Equipamentos portáteis de última geração, como o BERA (Audiometria de Tronco Cerebral) – disponível exclusivamente no Serviço de Otorrinolaringologia do HP – têm aprimorado o atendimento de pacientes ambulatoriais e internados, permitindo acompanhar na beira do leito o surgimento de possíveis agressões do ouvido. Na Maternidade Santamaria e na UTI Neonatal esse exame também tem otimizado a triagem auditiva de recém-nascidos e o acompanhamento de pacientes com risco de perda auditiva. A triagem é reforçada pelos equipamentos de Emissões Otoacústicas (teste da orelhinha), que identificam a surdez congênita nos recém-nascidos na instituição. “Detectar e tratar precocemente a deficiência auditiva é essencial para o resultado terapêutico. A dificuldade para ouvir afeta a percepção das pessoas, suas relações sociais e qualidade de vida, gerando autoestima diminuída, isolamento, dificuldade de comunicação e aprendizagem, sobretudo em crianças em processo de desenvolvimento da fala”, observa. Nesses casos, o aparelho P300 (Potencial Evocado Auditivo de Longa Latência) permite avaliar áreas auditivas cerebrais relacionadas com a capacidade de aprendizado (função cognitiva), sendo útil para o diagnóstico e controle de evolução e tratamento da deficiência. A especialista observa que o P300 é muito usado em crianças com distúrbios de aprendizagem, idosos com demências e pacientes com dificuldade de compreensão da fala.
Já a Imitanciometria (ou Impedanciometria) tem utilidade importante no diagnóstico da deficiência auditiva crônica infantil. Posicionando uma pequena sonda na entrada do conduto auditivo externo o médico realiza dois tipos de testes: a Timpanometria, que avalia a condução sonora das estruturas das orelhas externa e média, e o Reflexo Estapédico, que examina as estruturas das orelhas média e interna, o nervo auditivo e o tronco cerebral. O Serviço também dispõe de Audiometria Convencional – para medição do grau e tipo de alteração no ouvido – e de Audiometria de Altas Frequências – que revela perdas auditivas precoces não identificadas no exame convencional. “Muitos recursos permitem identificar e tratar a perda auditiva. Quanto mais cedo for a descoberta, mais rápido o indivíduo vai poder conviver em sociedade com uma audição normal”, lembra.
DIAGNÓSTICO PRECISO DA PERDA AUDITIVA
Audiometria Convencional
Avalia o grau e o tipo de alteração no ouvido
Imitanciometria (ou Impedanciometria)
Proporciona o diagnóstico da deficiência auditiva crônica em crianças por meio dos exames de Timpanometria (que avalia a condução sonora das estruturas das orelhas externa e média) e do Reflexo Estapédico (que examina as estruturas das orelhas média e interna, o nervo auditivo e o tronco cerebral)
Audiometria de Altas Frequências
Possui maior capacidade que a Audiometria Convencional na avaliação dos estágios iniciais da surdez e das perdas auditivas precoces
BERA (Exame do Potencial Evocado Auditivo do Tronco Encefálico)
Exame de última geração para avaliação objetiva do limite de audição por meio do exame do nervo auditivo
Otoemissões Acústicas Transitórias (Teste da Orelhinha)
Revela pacientes com risco de perda auditiva, principalmente os recém-nascidos
P300 (Potencial Evocado Auditivo de Longa Latência)
Avalia áreas auditivas cerebrais relacionadas com a capacidade de aprendizado (função cognitiva)