Cuidado humano na prática médica — Hospital Português da Bahia
10 de outubro de 2017
Cuidado humano na prática médica
10 October 2017
Confrontando os avanços da Medicina e as transformações na prática da profissão, é inevitável constatar os ganhos expressivos para a assistência ao paciente. Surgimento de tratamentos mais eficazes, conquista de maior rapidez e precisão diagnóstica, criação de novas subespecialidades médicas, tudo parece convergir para o aprimoramento da arte do cuidado. Digo “parece” porque se compararmos a evolução no âmbito da saúde com os recursos médico-hospitalares disponíveis num passado recente, veremos que, hoje, o parecer clínico tem sido fortemente vinculado ao uso da tecnologia. Antes, o diagnóstico médico valia-se, sobretudo, de informações colhidas na conversa com o paciente (anamnese), utilizando-se do exame clínico ambulatorial e avaliações complementares como recursos adicionais. Em meio às facilidades geradas por recursos de ponta, o médico contemporâneo enfrenta um desafio: cuidar do paciente de forma humana, reconhecendo a sua complexidade enquanto pessoa e não apenas a sua doença.
A despeito das inovações da Medicina, a relação médico-paciente foi e continua sendo a pedra angular do cuidado; o meio no qual os dados são coletados, os diagnósticos e os planos são feitos e, finalmente, o tratamento é implementado, permitindo a remediação dos sofrimentos e a obtenção da cura. Esta reflexão se faz necessária a todos que optam pelo exercício diário desta profissão. Um sólido relacionamento médico-paciente pode permitir a melhor tomada de decisões e construção de planos de cuidados mais amadurecidos. Se um paciente não confia ou não gosta do seu médico, não relatará informações de forma completa e pertinente. Um paciente que esteja ansioso não compreenderá as informações médicas com clareza. Portanto, o relacionamento determina diretamente a qualidade e integridade das informações que transitam na interação médico-paciente.
Para os hospitais, essa interação satisfatória é um dos fatores cruciais para a qualidade assistencial e confiança no cuidado ofertado. A confiança, que também podemos chamar de credibilidade, passa a exercer influência relevante na escolha do serviço de uma ou de outra instituição, como também, na fidelização do cliente após o atendimento. É fundamental que instituições vocacionadas para o ensino, pesquisa e assistência desenvolvam tais habilidades e conhecimentos humanos no seu corpo clínico. É preciso ainda construir estratégias educativas para os jovens profissionais saberem se relacionar de forma mais eficaz com os seus pacientes.
Muitos são os desafios do cuidado centrado no paciente. Colocar a pessoa humana em primeiro lugar, reconhecer a sua vulnerabilidade enquanto indivíduo adoecido, que necessita de cuidados em particular, compaixão e acolhimento, é também abraçar uma missão que envolve gostar de pessoas, reconhecer as dificuldades desta jornada e buscar a superação continuamente. Felizmente, muitos são ainda os médicos que colocam o bem-estar de seus pacientes à frente de si mesmos e da instituição em que trabalham, inclusive abdicando de uma parte de suas vidas por este ideal. Parabéns a todos os profissionais que humanizam o exercício da Medicina!
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